Cobertura de Eventos #37: "15° Otacílio Rock Festival" (11 e 12/03)

Salve Headbangers! O cenário pandêmico é sem dúvida uma lúgubre página da história da humanidade e nos privou de muitas coisas, desde contato presencial com familiares, amigos e entes queridos até mesmo a chance de estar presente em eventos e manifestações culturais.         Agora, passado esse período, com grande esforço e dedicação de muitos (lutando contra um cenário dominado por negacionismo), conseguimos voltar a normalidade e tivemos o retorno dos festivais e entre eles temos um verdadeiro baluarte da cena catarinense, o "Otacílio Rock Festival"  que nessa décima quinta edição mostrou que está ainda mais forte, e manteve suas características principais que é a diversidade de bandas, o respeito ao público e imprensa e uma hospitalidade que faz com que o clima dentro do evento seja algo difícil de descrever para quem nunca esteve presente.


    Antes de detalhar as apresentações, quero estender o meu parabéns e muito obrigado a: Denilson Luis Padilha, Elienai Souza e Nani Poluceno, pessoas essas que nutrem um grande amor pela cena musical e assim como nós que estamos na cobertura, é impossível vê-los parados durante o evento.

Primeiro dia - Sábado

    Chegamos ao evento e claro, fomos recebidos com boas doses de Rock/Metal, já que a abertura desse ano ficou a cargo de Vintage Valda Vinil. Para quem é de Santa Catarina e região, conhece o Valda por ser um músico ativo em várias bandas do nosso underground e foi bem interessante ver ele fazendo discotecagem, além de ostentar uma bela coleção de vinis dos quais alguns estavam com ele no palco.
     Feito o aquecimento, a primeira banda a se apresentar foi a Royal Rage, mostrando uma experiência de palco que casa bem com o fato de já estarem na ativa há algum tempo e ter músicos experientes, formada atualmente por Thiago Rodrigues na bateria, Sol Perez nas guitarras (grave esse nome, pois ele vai aparecer aqui outras vezes), Henrique de Carvalho no baixo e backing vocals, e Pedro Ferreira na guitarra e vocais. Como comentei, com eles em entrevista que em breve será lançada em parceria com nosso irmãos do Urussanga Rock Music, a Royal Rage consegue transitar muito bem entre as escolas do thrash metal indo de partes mais técnicas para outras extremamente agressivas sem perder em nada suas características, isso fica evidente em sons como Bloodlust, Eyes of Glass e Khan que pudemos assistir ao vivo. Em tempo de citar que tivemos também sons como Shred the World que é um thrash na linha do Exodus e Lampião que encontra na música nordestina uma influência aliada ao metal extremo e o resultado é primoroso!


    O Goaten é aquela banda que para mim, foi amor a primeira audição, vim a conhece-la em um show antes da pandemia no Caverna Killmister onde tocaram ao lado da Evilcult e me tornei muito fã de ambas as bandas e você tem uma entrevista daquele show no nosso canal do Youtube.
    Logicamente com a pandemia fiquei um tempo sem ver a banda e esse show no "Ota" foi especial por isso, pois estaria vendo músicas que acompanhei o lançamento virtual pela primeira vez ao vivo, e aí não tem como, a Goaten é ótima em estúdio, mas ao vivo eles ganham uma energia ainda maior, nem os problemas de som, como algumas microfonias ou o volume da bateria mais baixo (problemas esses sanados ao longo da apresentação) tiraram o potencial e pegada da banda, seja com sons relativamente novos como Phanton Chaser, ou nas já consagradas Bells, The Fortress (a bateria dessa música é absurda!), Sacrifice e Huting The Dammned. A banda ia saindo do palco, mas o público exigiu um bis que foi prontamente atendido. Eles estão  para lançar seu primeiro full e não tenho dúvida que será um dos melhores lançamentos do ano, pode apostar! (PS:... Na próxima Soul Decay não pode ficar de fora do setlist!).


    Depois de um breve descanso, os músicos do Royal Rage voltam ao palco, só que agora com outra formação e outra banda, a Diabolus Intervention contando agora com o baixista Henrique nos vocais, eles entregam exatamente aquilo que prometem, um eficiente tributo ao Slayer, eu entendo quem não gosta de um tributo e banda cover afins, eu não me enquadro nesse grupo, pois se a música está sendo feita com qualidade, isso é o mais importante e infelizmente o Slayer não está mais ativo, então para nós fãs, ouvir sons como South of Heaven, Repentless Dead Skin Mask, e claro, Angel of Death, é algo que sempre vai despertar os moshs mais insanos e mostram como a música boa vence fácil a barreira do tempo.
    O Orquídea Negra é um ícone do metal catarinense, já acompanhei a banda com outras formações, mas não tem jeito, o vocalista Boca não é só dono de um vocal extremamente poderoso como tem uma presença de palco que energiza a platéia e digo isso no sentido menos metafórico possível, pois a grade que separava o palco foi vítima da platéia que estava em um misto de empolgação e êxtase com o Orquídea mostrando seus sons mais clássicos. Depois do pedido da organização, a grade voltou e o show não parou um segundo, com músicas desde as mais baladinhas Surrender e Miss You, passando por Touch Your Dreams e Rainbow in The Dark do álbum "Blood of The Gods" (2014).


   Quem esteve no OTA 2023 pode se orgulhar de dizer que assistiu a primeira apresentação da carreira do Icon Of Sin e que bom que eles falaram que era a primeira, pois eu não acreditaria caso me contassem! Para quem não sabe, e se fez referência ao nome, trata-se da banda de Raphael Mendes, vocalista que ficou reconhecido por fazer vídeos cantando Iron Maiden e com uma voz muito parecida com a do Bruce Dickinson (o que convenhamos é um baita elogio), ele se apresentou com uma banda super entrosada, com destaque para o incansável guitarrista Sol Mendes, tocando pela terceira vez no festival.
    Mostrando músicas do seu primeiro trabalho auto intitulado de 2021 como Icon Of Sin, Road Rage e The Last Samurai, e também novas músicas que irão fazer parte do seu segundo trabalho, como é o caso de Arcade Generation. Elogiar os vocais de Raphael é redundante, mas ele ainda se mostrou um grande frontman, tenho certeza que essa apresentação ficará marcada para todos os músicos do Icon of Sin assim como ficou para todos os que prestigiaram.


      OSS! O Mawashi Geri veio de Passo Fundo/RS, mas por quase uma hora levou o público do "Ota" para um pesadelo com trilha sonora de música oriental e metal morte, nós do U.E. temos um grande carinho pela Mawashi Geri desde a época que eles participaram do nosso festival online, então ali pudemos conferir como a sua sonoridade soaria ao vivo e para nossa surpresa, todos os elementos que eles apresentam no álbum estão aqui, uma simbiose entre extremidade e música folclórica oriental! Espero muito poder prestigiar a banda mais vezes, assim como, espero que eles consigam levar seu som para vários outros estados e países, pois estamos diante de uma das bandas mais originais do nosso cenário.
    Desde que o The Mist voltou a ativa, consegui assistir a banda em duas oportunidades aqui no estado, uma no "Armageddon", com Jairo Guedes nas guitarras, e agora no "Ota", com Thiago Oliveira fazendo a função de Jairo, que está no The Troops of Doom agora, e maior que a responsabilidade foi a forma como ele soube cumprir muito bem seu papel! Arrisco-me a dizer que essa apresentação foi até mais legal que a que eu vi anos atrás, logicamente a banda na estrada está mais ativa, e o que dizer de Vladimir Korg? O homem é uma usina de energia, aquecendo do lado do palco antes do show começar, e quando a banda começa a tocar ele simplesmente não para... No set temos aqueles sons que são clássicos do metal nacional como Flying Saucers in The Sky, Like a Bad Song do "Phantasmagoria" (1989), God of Black And White Images do "The Hangman Tree" (1991) e claro, The Enemy e Hate, onde temos aquele momento icônico do Korg levantando a bandeira do ódio, que nunca parou de tremular!


    Depois de uma verdadeira injeção de adrenalina e peso que o The Mist mostrou nos palcos, alguns bangers já se rendiam para o cansaço, azar o deles, que perderam um show de insanidade provocado pela Ossos. A banda gaúcha consegue me impressionar cada vez que eu os vejo, pois eles estão tocando cada vez mais rápido e de maneira mais insana, com direito ao vocal Pezzi se banhando em sangue, que esperamos que seja falso...
    No set, verdadeiros contos de terror, aqueles que fazem a alegria de quem foi adolescente na época das tardes de terror e pode assistir o "Cine Thrash" com o lendário e icônico Zé do Caixão, tivemos Igor que narra a história de um serial killer, Cadáver, Tudo Tem Um Fim, Vírus, Vitrine de Satã, Imagens de Horror, e Contos do Necrotério. O crossover/thrash da banda foi feito para puxar moshs violentos e aí você entende porque a banda se intitulou como Ossos, porque a chance de você quebrar alguns no meio do show é grande!


    Nesse ano de 2023 já assisti três apresentações da Malice Garden, banda catarinense, mais precisamente de Criciúma, e não tem como não ficar feliz com o crescimento que eles vêm construindo no undergound, pois sem dúvida, quando uma banda consegue atingir um nível mais alto no patamar, todos ganham com isso! Por onde passam é perceptível que sua presença é marcante o que os deixam com vários seguidores assíduos. Representando o death/black metal, a Malice apresentou sons que já figuram como grandes demonstrações do metal negro feito em Santa Catarina como Angels Falls, Your Flesh My Lust, S.I.N e Revenge Against Jesus Christ essa que contou com a participação do guitarrista O. Marauder da Posthumous,  dividindo os vocais com Orland.
     Hora de encerrar o primeiro dia do festival, então fomos todos convocados para os rituais de blasfêmia com a Profane Souls. Sendo uma verdadeira referência no quesito metal negro, a horda conta com 27 anos de uma verdadeira batalha contra a cristandade, é até fatídico estar escrevendo sobre eles em tempos que existem defensores do nazismo dentro do black metal, esses deveriam abraçar a sabedoria profana executada pela Profane Souls, que conseguiu mostrar o que é a filosofia por trás do movimento. Fiquei extremamente impressionado com os vocais de Becka Witchhammer (guitarra/vocal), um dos mais versáteis vocalistas do estilo no Brasil e principalmente com Joyce Thorns (baixo) que assumiu a missão de fazer os backing vocals, e o contra ponto de um vocal mais agudo com um grave casou perfeitamente como analisamos em sons como Sabedoria Profana, Tempos de Guerra, Rituais de Blasfêmia e Na Terra de Satã.



Segundo dia - Domingo

    Passado o dia anterior, tivemos um tempo para um descanso e um café para logo colar na frente do palco e assistir a banda As Filhas do Velho, reforçando um dos intuitos do "Ota" de dar espaço para bandas novas. Elas tiveram a missão de abrir o segundo dia do festival e fizeram bonito... Mostrando um repertório com covers que iam desde o rock, como The Beatles, passando por o heavy metal com Black Sabbath e Judas Priest, tudo com muita desenvoltura e talento, o que me faz querer ver a banda indo para o caminho do autoral, pois talento para isso não falta!


    Na sequência, a Pressure Gain mostrou um set com covers que iam de Deep Purple a Led Zeppelin como também sons autorais. Destaque para os instrumentistas extremamente habilidosos e para o fato da banda apresentar duas frontwomans que dividiam os vocais com muita sinergia entre elas. A apresentação contou ainda com a música Woman, um som autoral que teve a participação do guitarrista Tiago Della Vega.
   Tomando o palco com um visual único, com ternos e gravatas, a banda Os Kuatro apresentou um set que podemos chamar de 'best of' do rock/metal, e não tem jeito, apresentações assim sempre fazem o público colar na grade para cantar esses verdadeiros clássicos, como quando rolou um AC/DC, por exemplo, com Thunderstruck, ficou notável como o vocal conseguiu emular bem a vibe de Bonno Scott, como também quando eles mandaram um Led Zeppelin, ou um The Who, o que da para imaginar o quanto é difícil atingir tal nível em uma apresentação.


    Chegou a hora de falar de uma das bandas que mais me impressionou em todo o festival, o Finita. Eu venho acompanhando a banda desde o lançamento de "Lie" em 2018, onde apresentavam uma narrativa impressionante e aliado a isso um som que conseguia ir do dark metal para o gothic e o metal extremo com uma facilidade tremenda, e as boas impressões que tive com o trabalho citado só se intensificaram quando ouvi "Above Chaos" (2022) (em breve com resenha aqui no site).
    Pois bem, faltava saber como esse Universo da Finita seria levado para o palco e a medida que os músicos ocupavam seu lugar, o público já era atraído pela estética da banda, mas que nada valeria se o som fosse ruim! Mas aí, meus amigos, está o grande segredo da Finita, a banda é composta por músicos virtuosos e ótimo compositores que entregam na música uma teatralidade, um peso que é algo que fica difícil de descrever.
    A queda e a ascensão de Lucífer é narrada com um grande leque de emoções da angústia ao grito da dor e sofrimento e ao sentimento de raiva e vingança, sons como Aurora, Valsa dos Exumados e Lúcifer Empire ganham ainda mais atmosfera ao vivo, e reafirmo, o Finita estreou em terras catarinenses mostrando que é uma banda que tem tudo para se consagrar com uma força do underground extremo nacional!


    Aqui no Underground Extremo estamos acompanhando desde o começo a trajetória do The Damnnation, fizemos uma entrevista com a vocalista e guitarrista Renata Petrelli (acesse: http://www.undergroundextremo.com/2019/10/entrevista-damnnation.html), e divulgamos também quando foi lançado o EP "Parasite" (2020) e o primeiro full "Way of Perdition" (2022) (em breve resenha no site), faltava apenas presenciar a banda nos palcos, e isso foi feito nessa edição do "Ota". Além da vocal e guitarrista Petrelli a banda conta com a exímia baixista Aline Dutchi que também faz o backing vocals e na bateria com outra musicista extremamente virtuosa Janaina Mello, essa era uma das primeiras apresentações dela com a banda, mas é nítido ver que ela já se habituou a sonoridade e que sons como World's Curse, Apocalypse e Grief of Death ficam ainda mais pesadas ao vivo, e a Renata consegue executar duas atividades complexas que é cantar e tocar com muita maestria, sem dúvida, uma banda que queremos ver ao vivo mais vezes!


    Uma vez conversando com Jeff Verdani falei que ele é realmente Cülpadö por tocar em bandas que eu curto muito, no caso o Jailor, Axecuter, Murdeath, e Sad Theory e não contente com esse currículo invejável, ele ainda nos mostrou que pode ser um multi-instrumentista e compositor fora de série, provando isso com "Romper da Realidade" (2021), um trabalho de puro speed/thrash/death metal desgraçado de bom (resenha acesse: http://www.undergroundextremo.com/2023/02/resenha-253-romper-da-realidade-2021.html) , e levando para o palco temos a mesma qualidade encontrada no álbum (que fiz questão de adquir minha cópia pós show!). Verdani recrutou Kevin Vieira para a guitarra e Allan Carvalho para a bateria e o power trio executou o álbum na íntegra, com destaques para Loucura a Dois, Mato Por Prazer e Canibais de Garanhuns,  essa que tem uma história bem gore e vale a pena conferir caso não conheça.
    Confesso que estava muito empolgado para assistir o Selvageria, já que no mesmo festival em 2018 eles fizeram um show no mínimo, destruidor! E agora, reformulada, a banda conta com um power trio tendo a frente os lendários César Capi na guitarra e Tomás Toloza no baixo,  e na bateria e vocais Danilo Toloza, na verdade, o que Danilo fez aqui é algo digno dos mais altos elogios e já explico o porquê, mas antes preciso dizer que, me perdoe a formação antiga, mas acredito que essa ficou muito mais coerente, o formato power trio se encaixa na sonoridade do Selvageria e ver um baterista mantendo a pegada do som agressivo thrash/speed metal da banda aliando a isso um vocal que consegue cantar com a agressividade sem abrir mão dos agudos que são uma marca registrada do som, fez com que eu me tornasse ainda mais fã do Selvageria. No set ganharam destaque os dois álbuns, por isso tivemos Águias Assassinas, Trovão de Aço, Metal Invasor, Lâmina da Foice, Legião Invencivel, Selvageria, A MaldiçãoAtaque Selvagem e claro, para comoção de todos ali presentes, o Hino Do Mal, minha admiração pela banda é tanta que até me confundiram com um dos músicos (essa história eu conto outro dia!).


    O maior representante do folk metal no Brasil, o Tuatha de Danann volta para os palcos catarinenses e vem presentear os fãs com aquela aura mágica que ó eles conseguem fazer, e realmente a palavra mágica faz sentido a medida que somos inseridos no Universo cantado pelo Tuatha, sendo guiados pela inconfundível voz de Bruno Maia, com Giovani Maia que tem um vocal mais agressivo, o que eu sempre curti muito na sonoridade dos mineiros. Believe, It’s True abriu o show e os moshs agora foram substituídos pela audiência do show dançando, cantando, se divertindo e essa energia ia para a banda que retribuiu com Tan Pinga Ra Tan, We’re Back (essa marcando o retorno do Tuatha,  como o nome já indica) The Tribes of Witching Souls, Land Of Youth e The Last Words.


    Fim de festival é sempre aquela sensação de dever cumprido aliado ao fato de uma nostalgia e aquele desejo de que logo voltaremos a nos encontrar, e não existe ambiente mais receptivo do que o "Otacílio Rock Fest"!
PS: nosso total apoio e solidariedade a Hagata Christie, que foi vítima de falas racistas proferidas por um imbecil que ainda tentou atacar um amigo dela, o serviço de segurança do festival agiu de maneira imediata expulsando o sujeito, e esperamos que ele continue assim, expulso da cena que não deve dar espaço para pensamentos e atitudes intolerantes, sexistas e preconceituosas, quem não entendeu isso ainda, com certeza está no movimento e lugar  errado!