Entrevista #47: Metalosfera - Tiago Cattani

Salve headbangers!
É perceptível que o mercado editorial e literário está considerando o metal um nicho promissor, afinal de contas não existe público mais apaixonado e fiel. Seguindo essa premissa a editora Metalosfera lançou o livro "Precious Metal" que conta com entrevistas de membros de bandas internacionais falando sobre a produção de 25 álbuns clássicos que mudaram a história da música. Confira essa entrevista exclusiva e saiba mais detalhes.



1) Como surgiu o contato com o pessoal da Decibel, revista famosa americana, e quais foram os critérios de escolha das 25 entrevistas que aparecem no livro “Precious Metal”, lançado em 2020?

R: Sempre gostei dos conteúdos que a Decibel publica na revista e no site e, principalmente, dos livros que eles eventualmente editam. Eu tinha lido o “Precious Metal” no original e achado fantástico, então quando tive a ideia de traduzir e publicar um livro no Brasil, a Decibel foi a primeira editora que contatei. Felizmente, eles foram bastante receptivos, e a nossa colaboração foi (e tem sido) ótima. As entrevistas que aparecem na versão brasileira do “Precious Metal” correspondem às da edição original em inglês, com uma única diferença: a entrevista do Sarcófago, que solicitei que fosse incluída no lugar da de outra banda para que houvesse um representante do metal nacional no nosso livro.


2) Acredito eu que essas entrevistas não eram do conhecimento do público brasileiro. Dessa forma, qual foi a sensação de traduzir esse trabalho e qual das entrevistas, para você, como fã, foi mais marcante na hora de transpor para o livro?

R: De fato, essa é a primeira vez que algum conteúdo da Decibel é disponibilizado em português. Fico feliz de poder estar trazendo esse material para os fãs brasileiros de música pesada, pois a Decibel é muito respeitada lá fora, e as publicações deles são sempre de alta qualidade. Traduzir as palavras de veteranos como o Tony Iommi, na entrevista com o Black Sabbath, ou o Tom Warrior, na entrevista com o Celtic Frost, foi especial, porque dada a importância que esses caras tiveram e ainda têm na história do metal, a responsabilidade de fazer um bom trabalho pareceu ser ainda maior ali. Foi muito gratificante também traduzir as entrevistas sobre o “Tomb of the Mutilated”, do Cannibal Corpse, e o “In the Nightside Eclipse”, do Emperor, por esses álbuns serem alguns dos meus favoritos no metal. Do ponto de vista técnico, traduzir as respostas do Mick Harris, do Napalm Death, e do Fenriz, do Darkthrone, foi desafiador, pois esses dois sempre se pronunciam de maneira, digamos, peculiar (risos).


3) Temos a definição de “Volume 1” na capa do livro. Existem planos para lançar futuros volumes?

R: As entrevistas do Hall da Fama da Decibel têm sido publicadas mensalmente na revista desde novembro de 2004. De tempos em tempos, eles selecionam 25 dessas entrevistas e as disponibilizam novamente em formato de livro. Até hoje, já foram lançados três volumes dessa série de livros. A Metalosfera publicou a tradução do primeiro volume no Brasil em 2020. É possível que futuramente publiquemos os outros dois volumes também.



4) Quando eu acabar a leitura, postarei uma resenha do livro aqui no site, mas gostaria de saber de você, acerca da linha de tempo que as entrevistas se passam, pois nós temos desde “Heaven and Hell”, do Sabbath, até “Jane Doe”, do Converge. Acredita que a presença de tais álbuns mostra que o metal está em processo de renovação?

R: O que acho interessante de ser observado no livro são as “referências cruzadas”, digamos, que existem entre uma entrevista e outra. Por exemplo, o Black Sabbath (capítulo 1) é citado pelo Celtic Frost (capítulo 3), que é citado pelo Obituary (capítulo 9), que é citado pelo Entombed (capítulo 10), que é citado pelo Converge (capítulo 25). Creio que isso evidencia um pouco como a música pesada evoluiu e se diversificou, mas suas origens ainda podem ser rastreadas.


5) Como está o mercado editorial para lançamentos de livros? Sabemos que o brasileiro não tem o hábito de ler, então é um risco investir nessa área, não?

R: Atualmente, principalmente no Brasil, investir em qualquer coisa relacionada a cultura em formatos “clássicos” (ou seja, não digitais) é extremamente arriscado. Mas o público do metal é curioso por natureza, tem espírito investigativo e, geralmente, é sedento por informações sobre as bandas que curte. É nisso que nos baseamos para crer que nosso projeto vai continuar prosperando.


6) Logo na introdução do livro, temos a pergunta de qual será o próximo álbum a adentrar o Hall da Fama da Decibel. Então quero eu te fazer essa pergunta! Como fã, que álbum acredita que merece estar no Hall da Fama?

R: Vários álbuns que curto muito eu gostaria que fossem “dissecados” em entrevistas pelo pessoal da Decibel. Não só por considerá-los clássicos, mas também por acreditar que os membros das bandas devem ter boas histórias para contar. O primeiro do Deicide, o “Sorcery”, do Kataklysm, o “Tara”, do Absu, o “Ritual”, do Master’s Hammer, o “Drawing Down the Moon”, do Beherit, o “Nattens Madrigal”, do Ulver, e o “The Call of the Wood”, do Opera IX, seriam minhas sugestões.


7) Eu sendo fã de metal negro, a entrevista com o Sarcófago para mim é um dos grandes destaques do livro! Na sua visão, existe uma valorização maior do metal brasileiro lá fora em relação a aqui?

R:A entrevista com o Sarcófago é um caso interessante no livro, pois foi conduzida em português e depois vertida para o inglês para ser publicada na Decibel. Felizmente, tivemos acesso ao texto original (e inédito) da entrevista, em português, o que foi ótimo, pois assim evitamos que eu precisasse “traduzir a tradução”, algo que, naturalmente, é desaconselhável. Sobre a valorização do metal brasileiro, talvez esse desequilíbrio ocorresse mais forte no passado. Atualmente, há tanto material de qualidade sendo lançado em literalmente todas as partes do mundo (e com acesso bastante facilitado), que fica difícil ignorar o fato de que fronteiras — sejam físicas ou culturais —, na música, não importam.


8) Falando um pouco da Metalosfera, editora do livro, quando ela surgiu e quais são seus futuros projetos?

R: Sou tradutor e revisor de textos há muitos anos e, como também sou grande fã de metal, sempre quis fazer algo que juntasse minha profissão com a paixão pela música pesada. Foi com essa ambição que surgiu a Metalosfera em 2017. Pouco depois, um amigo de longa data (Tiago Bonamigo, coeditor do livro), com o qual eu já havia colaborado num website sobre metal, ingressou no projeto. Por enquanto, estamos concentrados na divulgação do “Precious Metal”. Temos ideias para o futuro, mas é cedo ainda para trazer os detalhes a público.


9) Agradeço pela entrevista! Esse espaço agora deixo para vocês divulgarem as formas de como nossos leitores podem adquirir o livro “Precious Metal”. E desde já, parabéns pelo excelente trabalho!

R: Agradeço bastante ao Underground Extremo pelo interesse no nosso trabalho e por nos proporcionar essa oportunidade de conversarmos sobre o livro. Exemplares do “Precious Metal: uma Antologia do Hall da Fama da Revista Decibel — Volume 1” podem ser adquiridos diretamente conosco, pelo e-mail editorametalosfera@gmail.com, ou com algum dos nossos parceiros, que estão listados em www.metalosfera.com.br. Lá também é possível conferir mais detalhes sobre o livro, como a lista completa dos álbuns e dos músicos entrevistados. E, claro, estamos presentes também nas redes sociais (Facebook e Instagram). Valeu!