Resenha #460: "IV" (2022) - Corporate Death

Nosso Underground é composto por bandas que levam o compromisso com a música a sério e não se limitam diante de dificuldades e barreiras, cravando assim seus nomes como verdadeiros expoentes e motivos de orgulho nacional. Nesse seleto grupo, hoje quero destacar o Corporate Death, que em 2022 lançou seu quarto registro: "IV: Homines in Bestiales Formas" — álbum que esta resenha pretende avaliar.
Formada em 2001 no interior de São Paulo (Jundiaí), a banda traz neste trabalho uma particularidade que me fez, como fã das antigas, sentir aquela nostalgia e ir ouví-lo com altas expectativas. Afinal, temos o retorno do vocalista e membro fundador Flávio Ribeiro (sem desmerecer o excelente trabalho da vocalista Aline Lodi, que também participa deste disco e carregou o legado do Corporate Death como um dos grandes nomes do death metal nacional). Completam o power trio Damien Mendonça (guitarras) e Rafael Cau (bateria e backing vocals), que bebem de influências como Malevolent Creation e até vertentes mais extremas, como Prostitute Disfigurement — o que já dá uma ideia do que esperar.
Mourning of Angels inicia com um breve interlúdio — único momento 'calmo' do álbum —, seguido por vocais guturais e cavernosos que mesclam passagens próximas ao pig squeal. O contraste é acentuado pela participação do vocalista Laudmar Bueno (War Eternal), que também aparece em Soulkeeper, Kill the Whore e Silent Despair.
A já citada Soulkeeper é uma faixa rápida que remete ao Cannibal Corpse, e não há outro adjetivo para as guitarras de Evandro Miranda (Corporal Sores, Vile Existence, Akinetopsia) a não ser brilhantes!
 
Mostrando que o legado do Corporate Death é imenso, Aline Lodi retorna em Tides of Misery. Essa faixa, junto de Kill the Whore, é daquelas que elevam o death metal nacional a patamares globais — e nossos programas de rádio especializados no gênero estão aí para comprovar essa força.
O uso de corais femininos muitas vezes não soa bem nesse sub estilo, mas quando aplicado para criar atmosferas sombrias, a fórmula é letal. Em Silent Despair, essa escolha só reforça a afirmação. Já The Burden reduz a cadência, aumentando o peso sonoro — com destaque para a participação de André Bairral (Fim da Aurora), que eleva ainda mais a faixa.
Os sinos do juízo final ecoam em Judgment in Heaven, a faixa mais longa do álbum. Uma construção épica que simula uma descida ao inferno, onde a mão de um 'criador' vingativo e amargurado esmaga tudo, deixando apenas sede de sangue — insaciável. Assim, fechamos um trabalho que é uma nova página na história do death metal.
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TRACKLIST:
1) Mourning of Angels
2) Soulkeeper
3) Tides of Misery
4) Kill the Whore
5) Silent Despair
6) In the Shadows
7) The Burden
8) Judgment in Heaven
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FORMAÇÃO:
Flávio Ribeiro -  vocais e baixo;
Damien Mendonça -  guitarra;
Rafael Cau -  bateria.