Resenha #135: "Cenas Brutais" (2020) - Eskröta

É raro eu conseguir tirar um tempo para ouvir um álbum por completo e ainda conseguir resenha-lo, porém, tem trabalhos que merecem serem colocados como prioridade em nossas audições e o "Cenas Brutais", da banda Eskröta, foi o meu escolhido da vez.

A banda é um trio que vem do interior de São Paulo e aborda em suas composições temas bem atuais e politizados, tocados na base de muita agressividade e rapidez, elementos de 'thrash' metal e 'crossover'. Para produção musical deste álbum, contaram com Martin Furia, que teve contribuições de Prika Amaral (da Nervosa). A arte e o 'layout' do "Cenas Brutais" ficou a cargo de Alcides Burn (artista que já desenvolveu as artes do Krisiun, Inherence, entre outras).


Grita vem com aquela acidez bem característica do som da banda, assim como das letras, nessa faixa temos a abordagem de termos como, a submissão feminina e os padrões físicos, estéticos e culturais que a sociedade insiste em impor para as mulheres, temas esses desenvolvidos com um 'thrash' bem pegado e veloz.

Seguimos o baile com Tribunal Popular, o som com a mesma pegada da 'intro' aborda uma das grandes problemáticas dos tempos atuais, a falaçada popular que tem apoio e exemplo de militâncias, julgam sem fundamentação teórica e sem preparo ou formação para expressar opiniões. Me chamou a atenção a quebra na música com um áudio de noticiário, pra vir na finaleira dessa faixa aquela patada sonora que só o 'thrash' com pegadas 'crossover' proporcionam.

Vai se Arrepender, que teve a participação da Mayara Puertas, do Torture Squad, para a gravação dos vocais e Cárcere, são mais tapas na cara da sociedade, que não se modifica para resolver os problemas sociais, principalmente quando esses problemas envolvem mulheres. Acredito que ainda falta muito para o gênero feminino se emponderar e mostrar sua importância e parabenizo bandas como a Eskröta que mete a cara e se expressa de maneira bem explícita, volto a dizer som pancada que coincide muito bem com suas letras (cantadas em português).

Quero destacar também o fato de que quando ouvimos as músicas da Eskröta, conseguimos identificar que são mulheres cantando, o que para mim é uma proposta bem interessante, pois existem centenas de bandas com vocais femininos trabalhados no gutural e que não é possível essa identificação, então essa é uma das características que distingue a banda.

Ouvindo esse trabalho rememorei como eu gosto de sons cantados em português, além de sentir as ondas sonoras é possível refletir sobre o tema abordado, e foi isso que eu fiz nas faixas que deram sequência na minha audição, Cruzamento Maldito, Condenados, Não Vale Nada e Massacre, nesse último som, temos até um solo... Sim! As meninas e o John estão cada dia mais engajados com o domínio de técnicas e maneiras para diversificar o seu som.


Em Follow The Money, por mais que tenha um título em inglês, que também compõe o refrão da música, prevalece a mensagem antifa da banda e cantada em português, - “Elegeram um mito para acabar com a corrupção”! Que letra!

As faixas que finalizam esse álbum, tiveram participações especiais, a única composição em inglês, Refugees, teve a contribuição nos vocais da Fernanda Lira, do Nervosa, o que ficou bem perceptível pois ela tem um timbre bem marcante e característico. E que contribuição... Totalmente positiva, que deu muito peso e agressividade para o som.

Fechando então, com quase meia hora de pancadaria nos seus ouvidos e na sua mente com as mensagens dessas composições, temos Filha do Satanás, contando com a participação no vocal do Hugo Golon, da Cemitério, e como é bem característico da Cemitério, essa faixa se baseia no filme Carrie: a estranha, então acredito que Hugo deve ter contribuído também para compor a letra dessa faixa, ela é uma das preferidas do Harley.

Enfim, esse trabalho de estreia da Eskröta, que até então apenas havia lançado o EP "Eticamente Questionável" e o 'split' "Ultriz" junto à banda Afronta, trouxe para o 'underground' momentos de reflexões eufóricas e muita representatividade das mulheres, mostrando que gênero não define capacidade e nem qualidade, além do mais, as participações foram mais do que especiais nesse álbum, serviram para expressar a união dos músicos em âmbito nacional.


TRACKLIST:
1) Grita

2) Tribunal Popular
3) VAI SE ARREPENDER (feat. Mayara Puertas)
4) Cárcere
5) Cruzamento Maldito
6) Condenados
7) Não vale nada
8) Massacre
9) Follow The Money
10) Refugees (feat. Fernanda Lira)
11) Filha do Satanás (feat. Hugo Golon)

FORMAÇÃO:
Ya Amaral - vocalista e guitarrista;
Tamy - baixista e backing vocal;
Jonh França - baterista.

Contatos da banda:

Facebook: https://www.facebook.com/eskrotaInstagram: https://www.instagram.com/eskrotacs/
Loja virtual (vende o álbum): www.diehard.com.br