Entrevista #57: Carnificine

Salve Headbangers! Estamos retornando nessa coluna com uma entrevista exclusiva, mas já aviso que não é para corações fracos! Trocamos uma ideia com o Pé de Bode o nome responsável pelo Carnificine, um selo independente responsável por trazer para o Brasil a nata dos filmes extremos. Quer saber mais desse universo que funde o horror com a realidade e claro, com a música extrema? Então segue nossa entrevista:
1) Salve! É uma grande honra para nós do Underground Extremo conversar com alguém que tenha o gosto por gore e outras aberrações. A Carnificina vem desde 2009 destravando o cenário do submundo do cinema, então poderia nos dizer como e quando começou essa fixação pelo gore? Eu, por exemplo, sou cria do "Fome Animal".
R: A honra é toda minha! Muito obrigado por me receber. O Carnificine nasceu no final de 2009 como uma espécie de "outlet" criativo para mim. Eu sempre me interessei em arte em geral, e sempre tive um interesse pelo "ofensivo", desde moleque.
Curiosamente, eu era um moleque que tinha medo de tudo e ao mesmo tempo que cagava nas calças com filmes de terror e violência, eu tinha uma curiosidade por dentro, era uma dualidade em constante briga. Mas confesso que demorou muitos anos até que eu vencer esse "medo" de tudo.
O gore serviu como uma "terapia de exposição" para mim, e isso evoluiu pela paixão por esse tipo de filme shockumentaries e cinema Mondo, principalmente. Foi realmente um giro de 180 graus!
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2) O público do terror e do gore em geral é muito próximo do metal extremo. Acredita que essa ligação se deve pelo fato de não seguir aos dogmas e padrões sociais? E falando de metal, quais são as bandas que você indicaria para nossos leitores?
R: Sem dúvida! O metal e o horror são inerentes, os dois representam polaridades extremas do ser humano. Os dois servem como um escape (em sua maioria) positivo. O ser humano precisa se expressar e o lado violento faz parte da gente, queira ou não! O metal extremo e horror são excelentes escapes e aliviadores dessas frustrações e dores humanas, a pessoa expressa sua raiva de forma artística e cria algo que outras que possam estar passando por frustrações possam se identificar e extravasar em conjunto. É uma válvula necessária. Meu gosto em Metal se passa mais no Heavy/Thrash, eu amo Pantera, Iron Maiden, a carreira solo do Bruce Dickinson, Anthrax, Testament, Annihilator (amo Jeff Waters)! Curto muito Cannibal Corpse também, principalmente quando o George Fisher entra na banda ("Vile" é um álbum de estreia muito bom). Gosto também de vocalistas com vozes únicas, como o Johnny Gioeli do Hardline e Axel Rudi Pell (na minha opinião, o melhor vocalista de todos os tempos!).
Recomendo para quem curte Heavy uma banda Argentina chamada Gauchos De Acero! É ótima!
Rafael Melo, um one man band do interior de São Paulo que faz um metal industrial e atmosférico sensacional.
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3) Nas nossas pesquisas, encontrei uns vídeos muito bons no Instagram de vocês com toques de humor negro. Como foi gravar essas esquetes e pretende fazer mais desses materiais?
R: Gentileza sua chamar de bom! Hahaha! Muito obrigado. Meu gosto pelo indecente começou nos grupos de comédias escrachadas, como "Hermes & Renato" (R.I.P. Fausto Fanti) e "The Whitest Kids U' Know" (R.I.P Trevor Moore). Quando comecei a me interessar por cinema, sempre quis tentar fazer os outros rirem (bastante ênfase no "tenta!). Adoro comédia ofensiva tanto quanto adoro cinema extremo.
O Carnificine nos seus anos de primórdio tentou seguir os passos desses grupos de comédia, só faltava algo importante: boas piadas! Sempre achei minha esquetes terríveis hahaha, tenho bastante delas guardadas em HD's, destinadas ao esquecimento. Esquetes até dublagens toscas!
Mas era muito divertido gravar, mesmo. Geralmente era só eu, uma péssima ideia e uma câmera. Meu irmão gravou algumas comigo na época também! O mascote do Carnificine, o Pé De Bode, surgiu em uma esquete parodiando "Contos Da Cripta". Então o humor negro sempre vai estar presente no meu selo, de alguma forma. Eu não tenho certeza quando eu voltaria a gravar esquetes, como eu faço tudo sozinho, acho meio difícil! Mas gostaria sim! Com certeza!
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4) Como está o catálogo hoje do Carnificine? Existe algum material que foi extremamente difícil de trazer para ser lançado no Brasil? E a propósito, qual você gostaria de lançar pelo selo Carnificine?
R: O Carnificine anda a passos pequenos, mas constantes. Provavelmente a coisa mais difícil e desafiadora foi adquirir os direitos autorais de "Orozco El Embalsamador" com o diretor e fotógrafo de cadáveres Kiyotaka Tsurisaki. Kiyotaka é um cara bem legal e solícito, mas bem reservado, o nome dele ser associado com o Carnificine foi um passo enorme para mim. Lancei também "Junk Films" em VHS, assim como "Orozco" teve duas tiragens em VHS. Consegui contatos com diversos selos independentes em diversos países, como R.A.R.E. Releasing da Alemanha (que distribui alguns dos meus títulos pela Europa), Video Violence Releasing do Japão, RW Films, Massacre Video, Box Creep Films, D.T. Records, True Gore Art na Nova Zelândia e muitos outros talentosos artistas ao redor do globo! Muito desafiador é enfrentar as alfândegas dos países, os atrasos nas entregas internacionais, os extravios! É um jogo bem ingrato também, pois o retorno financeiro é quase zero e geralmente sempre estou sem um puto no bolso hahaha. É realmente algo por paixão. Um ponto negativo de ter chamado a atenção do pessoal lá fora é a falta de engajamento com o público brasileiro. O pessoal aqui gosta de cinema violento, porém muitos perderam a paixão pelo colecionismo. Muita gente vê a mídia física como uma perda de tempo. O que é uma pena e prejudica muito o Carnificine. Gostaria muito de lançar a trilogia "August Underground", já conversei com Fred Vogel e Stephen Biro da Unearthed Films (que possui os direitos autorais da trilogia)... mas não houve interesse. C'est la vie!
Continuo nos meus passos pequenos, mas não paro!
5) O Carnificine vem mantendo a resistência da mídia física na América do Sul, além do imortal Zé do Caixão e do maluco Peter Baiestorf. Quais outros diretores poderia indicar para nossos leitores?
R: Infelizmente, esses mesmos nomes que você citou também encontram apoio e amor lá fora, não tanto aqui no Brasil. Petter mesmo está migrando para o V.O.D. (Video on demand) que é uma forma digital e conveniente de se vender filmes.O desinteresse do brasileiro em preservar a mídia física prejudica muita gente, até mesmo os mais veteranos! O Zé Do Caixão é mais apreciado como Coffin Joe, com inúmeros lançamentos e coletâneas de cair o queixo por selos gringos. Existe um pequeno nicho que vê valor na mídia física aqui no Brasil, e eles são ótimos. Me orgulha ver gente com amor pelo colecionismo aqui nesse país. Eu sou um cara mais focado no cinema Mondo/Shockumentary, e recomendo René Wiesner que lançou Mondo modernos, como "Addio Uomo" e "Mondo Siam". Recomendo os trabalhos de Kiyotaka Tsurisaki, com seus livros fotográficos. Também recomendo a série "Death File" (conhecida aqui como Arquivos Da Morte), de Susumu Saegusa, que talvez seja um dos nomes mais importantes da popularização dos filmes de choque nos anos 80 e 90!
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6) Como um entusiasta da podreira, qual sua opinião acerca do cinema de horror nos últimos anos? Estilo como o soft porn de "Jogos Mortais" ajuda a trazer mais entusiastas ou é um desfavor? E quais sugestões daria para caso a gente se encontrasse amarrado em uma cadeira David Gordon Green?
R: Acho válido qualquer filme que faça algum efeito em alguém, se o estilo de "torture porn" de "Jogos Mortais" assusta os fãs, ótimo! Eu não sou contra, só acho um pouco cansativo a fórmula. Às vezes esses filmes mais "chupetas" de Hollywood servem de entrada para alguém ir no caminho mais extremo, mesmo conceito de alguém gostar de rock e ir no caminho do metal! O desfavor de verdade é a falta de valor que dão para os artistas independentes, isso é um pecado! Olha... ele dirigiu "Pineapple Express", que é um filme hilário. Então eu pegaria leve com ele! haha
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7) Muito obrigado pela entrevista! Continue com seu trabalho fantástico, o espaço é seu para deixar um recado para nossos leitores...
R: Eu que agradeço a oportunidade! Muito obrigado, de coração. Quero agradecer todos os leitores do Underground Extremo! Continuem apoiando seus artistas, continuem apoiando o underground.
Seja no metal ou no cinema! Somos todos da mesma tribo, estamos nessa juntos. Elogiem seus artistas independentes, de 100 porradas na cara que ele leva, 1 único elogio sincero faz tudo valer a pena. Sejam vocais com os elogios! Preservem a mídia física e comprem! Sei que é difícil ter um lazer com a situação desse nosso país pagando tão pouco para tanto trabalho feito, mas acreditem que uma única compra e uma mensagem de apoio vai tirar o maior sorriso de quem está vendendo coisas legais e vai certamente ajudar o artista independente a não pensar mais em desistir.
Considerem seguir o Carnificine no Instagram: @carnificineofficial, e considerem comprar alguns DVD's! Ajudem a preservar uma das únicas resistências da mídia física e do cinema extremo no Brasil e América do Sul!
Muito obrigado e um forte abraço a todos! PÉ DE BODE AGRADECE! O VERDADEIRO CARNIFICINE!!!