Resenha #477: "... Of Mourning" (2024) - Psychonaut 4

Salve, headbangers. Tenho uma dívida eterna com o Psychonaut 4. Em tempos difíceis, eles foram meu guia para me manter em pé no meio da tempestade. Por isso, sempre que a banda georgiana lançava algo, eu estava lá para absorver. E cinco dias antes do Dia das Bruxas, eles lançaram o que considero sua obra-prima – e, na minha opinião, um dos melhores álbuns de 2024.
"... Of Mourning", que em tradução literal significa 'de luto', conduz o ouvinte pelos estágios da dor: parte de um choro verdadeiro, passa pela raiva e desemboca na melancolia, numa narrativa sonora que te prende, coloca a mão no seu ombro e sussurra: 'tudo vai piorar'. 
Ghele chega com um lamento que marca o início do luto em si. Aqui já se estabelece uma tônica que percorrerá todo o registro: a beleza que acompanha a dor. Este é o álbum mais melódico da banda – e isso não significa, em nenhum momento, que abriram mão do peso. Pelo contrário: as passagens melancólicas são propositais, e os trechos mais limpos servem justamente para acentuar a escuridão quando ela retorna.
Mzeo Amodi é a resposta definitiva para quem diz que o DSBM 'não pode ser Black Metal' – uma incoerência que escancara o preconceito contra um estilo que tem a dor como matéria-prima. Os vocais, como sempre, são um toque especial. Entendo a gravidade dos atos de Graf, mas não tirarei o mérito: ele foi um dos maiores vocalistas do estilo, e agora responde por suas ações. Cantar em sua língua nativa aumenta a sensação de estranheza – e é exatamente isso que querem.
Para um fã das antigas, é inegável que Fiqrebi Mtsukhrisa soa como um novo mundo. A sonoridade do PS4 ganha ares de heavy que se fundem à melancolia, e a participação do Harakiri for the Sky só enaltece essa virada. A propósito, essa parceria é extremamente assertiva: duas bandas que, finalmente, começam a receber o reconhecimento merecido por suas propostas.
Vai Me é a união de dois mundos. Algo da sonoridade antiga da banda abraça essa aura atual, e temos um dos momentos mais impactantes: os vocais gritados ao fundo criam um ponto e contraponto que soam como um diálogo – uma luta para ver quem vencerá. Spoiler: no final, todos nós perdemos.
O álbum vai chegando à sua parte final. Depois de toda a beleza encontrada em Vai Me, é hora de se aprofundar nas amarguras de uma perda recente e ela vem com Sizmrebshiela transmite uma amargura de como perceber que tudo se desfaz e nunca mais retornará. A forma como os vocais transitam entre saudade e um distanciamento da sanidade é algo que só a música feita com alma pode oferecer.
Dzilis Tsameba é o ato final. O equilíbrio perfeito entre sentimento lúgubre e agressividade, um trabalho que eleva o DSBM a outro patamar de arte. Sem mais, apenas digo: finalmente, nós, brasileiros, teremos a honra de ver uma apresentação do Psychonaut 4. Sem dúvida, algo que marcará nossas almas sorumbáticas.
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TRACKLIST:
1) Ghele
2) Mzeo Amodi
3) Fiqrebi Mtsukhrisa (feat. Harakiri for the Sky)
4) Vai Me
5) Sizmrebshi
6) Dzilis Tsameba
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FORMAÇÃO:
Glixxx – guitarras;
Drifter – guitarras, vocais;
Graf – vocais;
Nepho – bateria;
S.D. Ramirez – guitarras, vocais;
Alex Menadbe – baixo;
Giorgi Kodzakhia – guitarras.