Cobertura de Eventos #46: "Armageddon Metal Fest - Desolation Rising" (Joinville/SC - 18/11/23)

Salve Headbangers! Passado o período de incertezas provocadas pela Covid-19, os festivais voltaram com muita força e um nome que tinha sido extremamente comprometido pela pandemia foi o "Armageddon Metal Fest", porém, sabendo da importância do seu nome e com um respeito pelos fãs, tivemos então a edição de 2023 ocorrendo no dia 18 de novembro, com um cast diversificado e tendo como headliners um dos grandes expoentes do black metal mundial o Abbath, além daquela que é uma das maiores bandas do metal brasileiro com mais de 30 anos de estrada, o Angra. Os detalhes de cada apresentação você acompanha agora na nossa cobertura!
Chegamos na cidade de Joinville para conhecer o local onde seria realizado o evento, o Luna é uma excelente casa de show e se prova como um ambiente bem propício para futuros eventos e com uma pontualidade elogiável, as 14 horas já éramos guiados para assistir a ascensão do Império de Lúcifer, com a Finita. A banda de Santa Maria no Rio Grande do Sul vem em uma crescente impressionante, a cada apresentação é possível ver o público que não ainda não os conhecia, impressionando, seja pela presença cênica, como também e diria até que principalmente, pela música que tem elementos do black, do death e do gothic, o que faz total sentido chamar de dark metal. Impressiona como sons como Valsa dos Exumados e Ascesion ao vivo são fieis as versões de estúdio e para deixar todos nós ainda mais impressionados com o que está por vir, ouvimos o som Gates Oblivion que estará no próximo registro.
Na sequência, outra banda que consegue impressionar não apenas pela parte sonora, mas também muito pela teatralidade que seus shows apresentam! O Paradise In Flames formou-se em 2003 em Minas Gerais e todas as vezes que assisto uma apresentação deles, tenho a sensação que estamos diante de uma missa profana. Alguns problemas na hora da passagem de som fez a banda atrasar um pouco, porém isso foi logo sanado e tivemos a chance de conferir ao vivo o motivo que faz a Paradise In Flames ser uma banda com uma estrada que soma turnês europeias ao seu currículo, a sonoridade deles é impactante e a cada momento é possível ver que cada som tem uma preocupação com cada parte, seja na forma que os três vocais entram na música, ou seja nas partes mais de blast beats da bateria ou ainda na linha de teclado, tudo aqui tem classe e muito peso! Destaque para os sons Unseen God, Dancer Of The Mist, Old Ritual To An Ancient Curse e Bringer of Disease, assim como para a música inédita apresentada, I Fell The Plague e eu como fã, senti falta de The Way To The Pentagram, fica para uma próxima que espero que não demore muito.
Representando a cena catarinense, o Panaceia mostra a diversidade de um cast do "Armageddon", pois eles se dedicam a fazer um tipo de som que para muitos está morto, mas a simples presença deles no festival, nega veemente isso! O seu metal alternativo tem a aprovação de grandes nomes da nossa cena como Adair Daufembach e Marcello Pompeu, sendo que esse fez uma participação no show da banda. Com uso de uma percussão e uma presença de palco que remeteu a um dos pais do new metal (Jonathan Davis do Korn) a banda mostrou suas intenções no underground com sons como Emergência, Porrada e O Inimigo.
Estava muito ansioso para ver o Uganga ao vivo pela primeira vez, vale a pena dizer que nos primeiros anos do Underground Extremo o Uganga foi uma das poucas bandas que confiou no nosso potencial e nos cedeu uma entrevista, da qual temos muito orgulho, e eu tenho o "Caos Carma Conceito" como um dos meus álbuns favoritos, e que apresentação presenciamos meus amigos, um misto de energia e agressividade que só uma banda que realmente vive o underground pode nos oferecer, claro que um set list maior teria sido ideal, mas nos moldes do fest, deu para ver literalmente o caos em forma de música como em Servus, Aos Pés Da Grande Árvore Fronteiras da Tolerância. Ah, e ficou a dúvida, o que Amen Corner e Uganga aprontaram quando estavam juntos no "Roça em Roll", de acordo com Manu Joker, nunca saberemos!...
O black metal brasileiro tem uma história que não deve nada para lugares profanos do estilo como a Noruega e a Finlândia e digo isso me baseando em um dos alicerces que temos aqui, o Amen Corner, que desde 1992 vem honrando o que podemos chamar de típico black metal brasileiro, unindo as passagens tradicionais do estilo com uma agressividade intrínseca, logicamente o público respondeu, sendo um dos shows com maior presença de bangers a frente do palco e eu, sendo um fã das antigas, não pude deixar de comemorar a presença de Black Thorn assim como The Lords of Sodoma, Leviathan Destroyer e Sons of Cain no set da banda. E aquela máxima, o Amen Corner veio e venceu mais uma vez!
O Desalmado dentro do grindcore/death metal é uma das minhas bandas favoritas, acompanho desde a época do "El Fuego" e é nítido que eles têm uma evolução constante a cada lançamento, pois me passa a impressão que cada álbum é um novo patamar alcançado pela banda, e das muitas apresentações que assisti, essa foi a primeira com a formação com dois guitarristas e a entrada de Marcelo Liam trouxe ainda mais peso (se é que era possível) para sons como Esmague Os Fascitas, Unity, Mental Mass Devolution e Hollow.
Muito do que falei no Desalmado posso afirmar no Surra! Sei que há alguns anos atrás, tinha acontecido em São Paulo o 'Surralmado', o encontro entre essas duas revolucionárias bandas em vários sentidos, sabia que isso iria se repetir nos palcos do Armageddon, mas não esperava que realmente fosse lado a lado no palco, pois enquanto o Desalma destilava seu set, o Surra estava ali do lado do palco se preparando, essa dinâmica de dois palcos foi sensacional! Vindos de uma pausa paternidade, o Surra apresentou em Joinville um best off de sua carreira até aqui, sendo que esse show fechou um ciclo e como Leo mesmo avisou, o próximo show é com disco novo, então foi nossa chance de curtir várias fases da carreira dos santistas como Merenda, Brasileiro Otário e Triste, Tamo na Merda, Ultraviolencia,  Escorrendo Pelo Ralo, e claro, Bom Dia Senhor com um final reduzindo a velocidade e deixando o público cantar junto, coisa linda viu! Espero muito que os bangers de maneira geral, comecem a interpretar a letra e as mensagens passadas pelo Surra, Desalmado e Black Panthera que irei relatar mais a frente.
Em tempos que o público se limita a ler duas linhas e que algumas mídias se limitam a cobrir shows com as mesmas duas linhas e errando o nome de bandas... Me vejo obrigado a fazer aqui uma observação!... Eu entendo a importância de Marcelo Pompeu para a formação da cena do metal, assim como o mestre Carlos Vândalo que vai ser citado mais a frente, porém meu ponto é que eu não gosto de covers e o show dele foi uma apresentação de covers e não tem nada haver aqui com carisma ou coisa parecida, já que isso para quem já viu Korzus ao vivo, sabe que ele tem de sobra e claro, ele cantando sons como Correria é sempre muito bom e ele mostrou suas referências de Slayer, Judas Priest, Pantera e até mesmo Queen, outro ponto positivo foi ele apoiar músicos locais e agradecer a eles, tenho que dizer que a mais de vinte anos no underground, o que já vi de músicos com muito menos carisma e se achando muito mais não foram poucos, então... Aprendam com o mestre!
O banger brasileiro não apoia nem sua cena, imagina apoiar de outros países né, meio utópico isso, mas enfim, seguimos! Se isso fosse uma via de regra, perceberia que a América Latina tem bandas de inegável talento e os colombianos do Vitam Et Mortem deixaram boquiabertos quem não os conhecia. Eu imaginava já um show competente, mas caralho, os caras são incríveis ao vivo! O uso de duas vozes, cortesia dos membros oficiais Julian Trujillo também nas guitarras e Julian Rodriguez também na bateria, nessa formação ao vivo mostrou-se muito entrosada, tanto na parte musical quanto como é perceptível que tudo na apresentação deles é pensado, cada coreografia e pose no palco, mas isso seria o suficiente, lógico que não, aí que o Vitam Et Mortem se destaca, com sons que são um blackned death metal com passagens de folk metal, algo que ao vivo te leva para um rito de povos antigos e realizei um desejo de ver ao vivo as poderosas El Animero e Maha Kali.
Um dos nomes mais festejados e ao mesmo tempo diferenciado e com um papel de total responsabilidade dentro do underground, o Black Pantera tem uma década de estrada, é curioso que bandas muito inferiores tiveram muito maior espaço do que eles e sabemos muito bem a razão! Nunca tinha visto eles ao vivo e me permitam dizer que eles mandam muito bem em estúdio, mas o Black Pantera é uma banda de palco! Carismáticos, energéticos e ao mesmo tempo, raivosos e com uma energia e magnetismo implícitos, um power trio no melhor sentido da palavra e como baixista, fiquei impressionado com as habilidades de Chaene da Gama, assim como é Rodrigo "Pancho" Augusto na bateria e Charles Gama na guitarra e vocal, difícil demais falar em frontman no caso deles, e sons como Padrão É O Caralho, que abriu o show e Fogo Nos Racistas geraram rodas insanas, na verdade no show inteiro tivemos moshs das minas, wall of death e o mais importante, a mensagem de que música não é e nunca foi apenas som, é uma arte completa e o Black Pantera comprova isso.
Não existe nenhuma mentira em dizer que os mais de 700 headbangers que estavam ali presentes estavam na expectativa para ver o Dorsal Atlântica, a figura de Carlos Vândalo como ele mesmo anunciou - "Meu filho de nove anos me assistiu ao vivo e disse pai, você é louco pra caralho!" E sim, o filho do mestre escolheu um ótimo adjetivo e mesmo com um tempo limitado, o que posso dizer dos clássicos executados como Stalin, Metal Desunido e Guerrilha é que foram sensacionais! O álbum mais recente não ficou de fora e a mensagem foi passada direta ao ex-presidente com a faixa Burro, onde Carlos falou que perdeu amigos na pandemia e isso não pode ser esquecido, assim como não esqueceremos o fato de ter visto ao vivo uma lenda do metal brasileiro.
Uma tradição que o "Armageddon" está criando é trazer grandes nomes do black metal mundial para os palcos catarinenses e se presenciamos da última vez os metres do metal grego, Rotting Christ, agora temos um dos capítulos da história do black metal mundial no fest preenchido com o Abbath. A passagem de som já criava uma expectativa no público que vinha se aproximando do palco, porém nas primeiras duas músicas o vocal não saiu o que fez Abbath estranhar os sinais que o público tentava repassar depois do primeiro som. Com os problemas resolvidos, aí pudemos ver faixas dos álbuns da carreira como To War!, The Artifex e Dream Cull, um ponto que quero destacar é que eu e acredito que a maioria do público, gostaria de ver um show maior, foi uma média de 50 minutos, o que é pouco para um headliner, mas o show em Porto Alegre também foi curto devido a problemas de saúde de Abbath e quem sabe o inferno, literalmente, que ele passou, só de o ver no palco já é uma vitória para ele e principalmente para nós!
Com 30 anos de uma carreira que passou por desafios e renascimentos, dores e vitórias, e mesmo hoje, eu estando muito distante de ser um fã do power metal, acredito que nem cabe mais chamar o Angra de power, já que eles estão em uma fase em que o prog metal é apenas uma de suas influências e o seu mais recente trabalho "Cycle Of Pain" sintetiza isso. Fabio Lione consegue brincar com o público mostrando suas facetas operísticas, assim como provou que os sons novos não devem nada para os clássicos, então Vida Seca, Dead Man on Display, Cycles of Pain estavam presentes e se destacaram assim como Nothing to Say, Angels Cry e Waiting Silence, e aquelas que são indispensáveis em qualquer show do Angra, Rebirth da qual eu lembro de um show que eu fui e Lione a anunciou como a melhor música do Angra e uma das melhores do estilo. E Nova Era e Carry On e aquele papão de Kiko voltar? Acho uma pena caso ocorra, porque essa formação é bem entrosada e logicamente técnica, como sempre foi!
Infelizmente, presenciamos atos que vão contra tudo que pregamos dentro da cena underground, há nove anos aqui no site sempre zelamos pela união e sempre defendemos a bandeira de que já temos muitas dificuldades dentro da cena extrema e não podemos deixar de repudiar atos de violência, racismo e intolerância, não é essa mensagem que queremos passar, não é essa a verdadeira mensagem que a música como arte passa.
Um evento como o "Armageddon" demanda um grande número de pessoas trabalhando e logicamente, uma logística e organização imensa, por isso que sempre vamos defender todos aqueles que se dedicam a fazer algo pelo estilo que todos amamos, e como conversamos com Denilson em off, organizador do "Otacílio Rock Festival"... Porque fazemos isso? Simples, porque amamos! Então nossos mais sinceros parabéns as bandas, ao público, aos produtores e todos aqueles que vivem o underground, e que venha o próximo "Armageddon" para nos propiciar tão memoráveis momentos como essa edição!