Cobertura de Eventos #39: "Napalm Death, Surra, Desalmado, Eskröta e Crotch Rot" (29/04 - Curitiba/PR)

Salve Headbangers! Podemos dizer, sem o menor risco de hipérbole, que no dia 29 de abril Curitiba se tornou uma das capitais do movimento anti-música, isso porque reunimos no mesmo local grandes nomes do metal extremo nacional ao lado do Pai de todos, e um dos grandes responsáveis por esse site existir, a lenda Napalm Death.

    Antes mesmo do festival, já tínhamos indícios que estaríamos prestigiando algo histórico, pois teve alteração do local da apresentação devido a grande procura de ingressos o que é um ótimo sinal! Sempre bom lembrar que estamos falamos de um gênero underground e que na mesma data estava ocorrendo no estado vizinho o "Summer Breeze", por isso que ao adentrar no Tork'n'Roll e ver a estrutura da casa ficamos extremamente empolgados e realmente eles são um dos maiores bares de rock da América Latina, uma estrutura invejável e espero muito conseguir prestigiar mais eventos na casa.
    Responsáveis por fazer as boas vindas para o público presente, tivemos os paranaenses da Crotch Rot, formada por Muringa no vocal e em um cosplay maravilhoso de Wandinha Addams, Iago nas guitarras, Angela no baixo e André na bateria. Sempre me impressiono como conseguem fazer qualquer palco que eles se apresentem se tornar uma filial do "Obscene Extreme Festival".


       Com uma carga de ironia para alfinetar os 'red pill' e os Brochas From Hell que existem na cena, o goregrind extremamente agressivo inspira os bangers a arriscarem passos de dança embalados pelas poéticas Sarrada Aerea/X Gordinha (o mix com o funk, gênero homenageado pelo vocalista Muringa). Tivemos ainda alguns sons já clássicos como Brochas From Hell Lançamento de Feto na Paulista, quero destacar aqui a linha da frente da banda, enquanto Angela é uma baixista que consegue manter muito bem a cozinha ritmada com Andre, o guitarrista Iago, com seu capuz referenciando o lendário ROT e Muringa, um discípulo fiel do grande Barney, não parando um segundo sequer variando seus vocais com danças em homenagens a verdadeira Wandinha (Jena Ortega é muito inofensiva), dão um show de carisma agitando o público com seu som transante. Eu sou suspeito para falar do Crotch Rot, pois acredito que eles fazem um dos melhores sons dentro do estilo não só Brasil e como diria Muringa, esse é o som da juventude!
    Na sequência tivemos o primeiro show da turnê "Atenciosamente Eskröta", era nítido que Yasmin (guitarra e vocais), Tamy (baixo) e nessa apresentação contando com o baterista Cleber Castelano, estavam felizes por começar essa turnê logo com um show tão especial e tenho que dizer que a escolha do set list foi muito assertiva, dando destaque para sons de todos os seus trabalhos, tivemos Éticamente Questionável, Episiotomia, Burn The Poor e Playbosta do EP "Ultriz" (2019) ao lado da banda Afronta, Grita e Filha de Satanás do álbum "Cenas Brutais" (2020) essa, como disse Tamy, é uma das músicas que nunca podem ficar de fora do set list da Eskröta.


        Sons de trabalhos mais recentes também estavam no set, como Não Entre Em Pânico com participação do Ghost Face imolando a banda e do "Atenciosamente Eskröta" (2023)  veio a já cantada pela audiência, Homem É Assim Mesmo e fechando o show, Mulheres, uma música necessária e principalmente um dos momentos mais ríspidos do show do trio, que ao vivo mostra o porque não é mais uma revelação e sim um nome já consolidado.
      Fazia um tempinho que eu não assistia o Desalmado, mas acompanho de perto o trabalho da banda e, acredito que posso dizer, que eles estão vivendo uma das suas melhores fases, e é por isso que eu estava no hype para esse show e PQP o Desalma entregou tudo nessa apresentação, e como disse me referindo as outras bandas, eles irradiavam felicidade de estar ali no mesmo palco onde os mestres do grind iriam mostrar seu ataque logo menos e tenho que dizer que Bruno Leandro no baixo, Estevam Romera na guitarra, Caio Augusttus no vocal e Ricardo Nutzmann na bateria, conseguem fazer o complexo ficar fácil e os sons que no estúdio já são brutais, ao vivo ganham ainda mais agressividade.


      O set foi muito bem feito com destaques para Preço da Liberdade, Esmague os Fascistas (um hino), O Pavor do Estado, a faixa título do mais recente trabalho, Mass Mental Devolution, Your God, Your Dictator Bridges to a New Dawn. Eu queria Todos Vão Morrer, mas o fato de não ouvir essa música já é uma desculpa para colar em mais shows do Desalma quando eles voltarem para as terras do sul, e sabemos que não vai demorar!
      Alguém poderia me explicar como o Surra com apenas três caras fazem muito mais barulho que o Slipknot com nove? É impressionante como em todas apresentações do Surra parece que eles estão fazendo o último show de suas vidas e entregam para nós um crossover no melhor estilo da palavra, tem hardcore, tem punk, tem thrash e claro, tem violência! Estava sentindo falta de moshs mais insanos e eles já tinham começado no Desalma e no Surra fomos para o verdadeiro campo de guerra.
     Léo Mesquita é um músico extremamente carismático e ele vem cada vez mais provando que é um guitarrista virtuoso, fazendo um mix entre a melodia e a desgraça que o som pede, seguido por Guilherme que consegue unir os graves com os backing vocals bem entrosados e o discurso sempre muito inteligente e sarcástico, como no qual que ele elogiou o público que estava ali presente e questionou o preço do "Summer", onde o pessoal iria pagar o preço de um rim para ver palestras (pura verdade não é mesmo!) e Vitor Miranda, a engrenagem que faz a roda sonora do Surra rodar cada vez mais extrema. Sons como Parabéns Aos Envolvidos, Caso Isolado, Um Gole de Ácido, Ninho de Rato, Brasileiro Otário e Triste, Escorrendo Pelo Ralo e para fechar aquela que é o hino do proletariado e duvido que exista algum fã do Surra que não perca a voz com ela, Bom Dia Senhor!


      Chegou o momento, depois daqueles ajustes típicos de festival (e note que o festival não teve atrasos) e se no "Summer Breeze" eles não tiveram a atenção que mereciam, aqui toda a audiência já se concentrava em frente ao palco, e um destaque para o mar de camisas preta e azuis com sua estampa de unicórnios feita especificamente para essa turnê.
    Sendo fã das antigas, poderia dizer que queria muito ver Shane Embury (baixo) e Mitch Harris (guitarra) porém, enquanto o baixista tinha passado mal e não pôde se apresentar, triste, mas os méritos vão para Matt Sheridan que é o roadie da banda e desempenhou muito bem sua função, o mesmo digo de John Cooke e seus dread gigantescos, é estranho não ver Barney, Shane e Mitch dividindo o palco? Sem dúvida, mas o peso das músicas que vêm dos PAs superam essa estranheza.
       Pelo fato de serem uma banda que já veio para o Brasil algumas vezes, eles decidiram focar seu set em material mais recente, como eu estava vendo o Napalm pela primeira vez, poderia ficar chateado, mas por sorte, "Throes of Joy in the Jaws of Defeatism" lançado em 2020 e o EP "Resentment Is Always Seismic - A Final Throw of Throes" de 2022 são sensacionais, então a chance de ouvir sons como Narcissus, Backlash Just Because, Fuck the Factoid e Contagion foi ótima, além delas não fazerem feio em relação aquela que estávamos ansiosos para ouvir.


      Precisamos falar de Mark "Barney" Greenway, pelo fato de como um senhor com seus 53 anos consegue berrar como um adolescente, não parar um minuto sequer, dominar todo o palco e ainda por cima não perder a chance de ofender a todos que merecem ser ofendidos, as religiões, os nazistas, os machistas e claro, o suprassumo de lixo que estava na presidência. Tão impactante como suas falas eram as marretadas dadas por Danny Herrera, responsável por criar uma escola dentro do metal extremo.
        Um fato curioso é que muitos músicos que tinham tocado no fest estavam do lado do palco e nós compartilhamos nossas caras de êxtase por estar ali e faço minhas, as palavras do vocalista Muringa do Crotch Rot, isso é um pilar da nossa cultura! Melhor definição não existe para Lucid Fairytale, Scum, The Kill, Suffer The Children, Mentally Murder  e Unchallenged Hate.
        Luzes apagadas e os holofotes virados para Barney e You Suffer, mais direta impossível, na verdade, o show estava chegando ao fim, mas ainda tínhamos que mandar uma mensagem com Nazi Punks Fuck Off e Siege of Power. Sem mais, o Napalm não volta para um bis e nem precisava, pois estávamos todos exauridos, mas de alma lavada! Para nós do Underground Extremo essa foi nossa primeira cobertura no Paraná e queremos agradecer demais a Xaninho que acredita e apoia nosso trabalho, nossos mais sinceros agradecimentos e gratidão por poder prestigiar tão histórico momento!