Resenha #309: "Shades of Sorrow" (2023) - Crypta

    Salve Headbangers! Eis que um dos nomes mais comentados (muitas vezes por motivos errados) do Metal nacional na atualidade chega no seu segundo álbum e já afirmo sem nenhum receio de fazer uma hipérbole que "Shades of Sorrow" faz exatamente o que esperamos de um segundo álbum de uma banda, amadurecimento, fortalecimento de sua proposta e musicalidade acima da média, por isso depois de algumas audições confira nossas opiniões abaixo.


    Inegável que a parceria com a Napalm Records faz muito bem para a banda que investe pesado no trabalho, mas nada disso faria sentido se fosse algo abaixo da média, pois bem, eis que está aqui o grande brilhantismo desse trabalho!
    Quando eu ouvi "Echoes of The Soul" (2021) eu gostei bastante e falei ótimo, temos músicas aqui que são marcantes e esse trabalho mostra outras vertentes da sonoridade das musicistas depois da mudança de formação e com a consolidação com Fernanda Lira no baixo e vocal, Luana Dametto na bateria, Tainá Bergamaschi e Jéssica Di Falchi nas guitarras, elas entregam um trabalho homogêneo sendo que é possível captar uma mesma atmosfera ao longo da audição, algo que eu sentia falta no debut que tinha músicas que ora eram mais death metal tradicional outrora tivemos passagens que acenavam para o heavy e o death melódico.
    É fato que a estrada e a longa turnê favorecem na construção de "Shades of Sorrow" onde percebemos Lira usando muito maior a variação dos vocais e o baixo fica mais à frente, se o Morbid Angel era uma influência clara, aqui não dá para negar que a obra do mestre Chuck Schuldiner é evocada e convenhamos, para fazer isso temos que ter músicos muito acima da média, e já de antemão, o que a Dametto faz nesse álbum é absurdo! Uma força motriz da sonoridade da Crypta passa por ela e toda sua destreza e, se podemos perceber passagens cada vez mais próximas do black metal, arrisco-me a dizer que é a pegada dela.
    Um trabalho que se propõe a abordar temas mais pessoais, como a dor, o sofrimento e as amarguras, tem um começo com uma bela melodia The Aftermath, eu não gosto de intros, mas já consigo imaginar essa no começo dos shows e ela tem uma atmosfera de open act, não me irritou como a maioria dos álbuns que usa esse efeito fazem comigo, e o contra ponto dela deixa Dark Clouds muito mais brutal! Eu teria escolhido ela como single, pois é um dos momentos mais extremos do álbum, com espaço para todas as cores da aquarela do Crypta aparecerem com destaque desde um mini interlúdio de violão, até um trabalho de guitarra primoroso, qualidade essa que se mantém ao longo da audição.


    Poisonous Aparthy já é fatalmente minha favorita até o momento! Para calar os críticos temos sim uma banda de death metal, e desafio aos haters ouvir essa faixa sem dizer que banda é, para provar se o ódio não é gratuito! Ela poderia manter a velocidade constante e eu acharia perfeito, mas ela tem uma queda para um solo mais melódico que poderia não me agradar em nada, mas foi tão bem feito que faz sentido na música. Note a linha de baixo que emula a pegada do mestre Alex Webster do Cannibal Corpse.
    The Outsider e Stronghold são momentos progressivos do álbum, como citei as influências do Death estão presentes, principalmente do "Symbolic", o fato delas serem mais longas e não terem nenhuma parte previsível, faz dessas, grandes demonstrações de originalidade e espero que elas não fiquem de fora dos próximos shows da turnê.
    The Other Side of Anger foi a última faixa divulgada antes do álbum e ela faz uma divisória no trabalho entre o que ouvimos até aqui e o que ainda está por vir! O seu começo acústico se liga à introdução do álbum e também à Dark Clouds e podemos dizer que tem um andamento menos prog e mais reto e direto. A letra merece destaque também e como é bom perceber que temos bandas que fogem do gore pelo gore, (que eu curto para um caralho à propósito), mas a temática aqui é outra.
    The Limbo é o segundo interlúdio, o começo do Lado B do vinil e logo cede espaço para Trial of Traitors, o segundo single e sem dúvida, uma ótima escolha e prevejo esse som sendo um daqueles que a banda não irá mais tirar do set list, assim como Lord of Ruins que é o primeiro cartão de visita do álbum, músicas que vão pedir circle pits ao vivo e como tive a chance de assistir a Crypta algumas vezes, consigo afirmar que no show as músicas ganham ainda mais peso.


    Lullabye for the Forsaken começa com um pequena canção de ninar, mas na verdade é uma maldição lançada no ouvinte, ela tem um groove que vai te fazer bater cabeça logo na primeira audição e sinceramente, não consigo imaginar outra dupla de guitarristas na Crypta do que Jessica e Tainá, a escolha delas foi totalmente assertiva e a forma como elas dividem os solos é algo marcante!
    Agent of Chaos é uma passagem que acena para o debut, mas o final dela é tão caótico e abrupto que te deixa atordoado, o que é o clima para Lift the Blindfold, uma das melhores passagens vocais da Fernanda. The Closure encerra com um clima de terra arrasada dando um respiro e recomendo demais ouvir esse registro mais vezes para absorver tudo que está construído aqui.
    Se por algum motivo a Crypta não chamou sua atenção até o momento, ouça "Shades of Sorrow" e tire suas conclusões! Bandas menores em técnica e qualidade são muito mais reverenciadas aqui no Brasil por serem estrangeiras, não vou citar nomes, mas acho inadmissível propostas musicais infantis e bobas serem chamadas de death metal, enquanto temos um grande registro feito por uma banda nacional e sabemos que teremos uma chuva de críticas infundadas, baseadas em várias argumentações, menos a música! Enfim, maior que tudo isso, está nossa paixão pelo metal e que se enche de satisfação e orgulho em ouvir "Shades of Sorrow".

TRACKLIST:
1) The Aftermath
2) Dark Clouds
3) Poisonous Apathy 
4) The Outsider
5) Stronghold
6) The Other Side of Anger 
7) The Limbo
8) Trial of Traitors 
9) Lullaby for the Forsaken
10) Agents of Chaos 
11) Lift the Blindfold
12) Lord of Ruins
13) The Closure

FORMAÇÃO:
Luana Dametto - bateria;
Fernanda Lira - vocais, baixo;
Tainá Bergamaschi - guitarras;
Jéssica di Falchi - guitarras.