Cobertura de Eventos #44: "Necrovoid Festival" - Joinville/SC (29/07/23)

   Salve Headbangers! Pós tempos pandêmicos que passamos, é muito gratificante acompanhar o retorno dos shows que começaram um pouco tímidos, até mesmo porque a situação econômica não era das melhores, porém agora estamos com novos ares e por isso mesmo é possível ver, além de grandes festivais, muitas bandas do underground, que colocam o sul como uma rota obrigatória para shows, e claro que isso em grande parte é mérito também dos produtores sérios que honram seus compromissos e entregam para o público casts que realmente valem a pena conferir, some isso à organização, estrutura e respeito ao público e temos uma fórmula para o sucesso e felizmente estamos acompanhando uma grande escalada nessas proporções feita pela produtora Necrovoid que nos entregou a primeira edição do seu fest, e quem esteve lá, acompanhou o nascimento de um monstro e para quem infelizmente não pode estar presente segue nossa cobertura.
    Chegamos um pouco antes da abertura dos portões e conseguimos acompanhar a passagem do som do Krisiun que estava com o ônibus da turnê no estacionamento, me encostei na parede e consegui sentir toda a estrutura tremendo com o massacre que os irmãos Kolesne conseguem fazer em uma simples passagem de som, o que já era um prenúncio para o que estava por vir.
    Abrindo os trabalhos, tivemos a banda joinvillense Zoombie Coockbook e, com todo respeito as formações anteriores, mas essa é a maior reencarnação que eles já tiveram e isso fica nítido no show que está mais cênico, com parte de corpos desmembrados espalhadas pelo palco e novas máscaras, mas, principalmente, o som que está mais coeso e mostrando toda a faceta do que é o dead metal por eles apresentado. Tivemos desde sons mais recentes, como os singles Formless... Twisted... Shapeless... e The Darkest Creepiest Night, do EP "Dead Metal" assim como, os maiores clássicos dos mortos, I See the Dead e Motel Hell. Fizemos uma entrevista com eles que em breve estará no nosso canal do Youtube, mas um pequeno spoiler, o álbum novo que está por vir assim como uma grande nuvem de gás tóxico que ressuscita os mortos, fará eles espalharem a praga pelo mundo afora.
    Se os mortos deixaram uma atmosfera de miasma no ar, agora nos temos um outro retorno, desde 2019 inativa, a Rhestus voltou para comemorar seus trinta anos de carreira, e a experiência conta muito e por mais que o frontman Alex Fantasma diga que não sentiu falta de porra nenhuma, na verdade era nítido ver que o palco é o habitat natural dele que soube criar uma ótima formação para marcar esse retorno ao circuito de festivais com Ernys no baixo, Tiago A. Sestrem nas guitarras e Gabriel Kleln na bateria. Mesmo não possuindo uma discografia muito extensa com apenas dois álbuns e dois EP's, o que não faltam são clássicos como Inside a Torn Apart, Bullet in Point (executada de maneira ainda mais rápida), Câncer, e fechando esse retorno, um wall of death foi estabelecido com Guerras Insanas. Espero muito que essa volta seja em definitivo, pois os fãs de thrash metal clamavam por esse retorno.
    Como dizemos no texto "Sons Que Não Podem Ficar de Fora" desse festival, três pilares do Metal gaúcho estariam reunidos nesse evento e a primeira demonstração de força do estilo vinda do sul, foi a Exterminate! Tínhamos assistido o grande show que eles fizeram no 14° Setembro Negro e dessa vez não foi diferente, contando na bateria com o monstro Sandro Moreira, além de Marcelo Feijo no baixo, Adriano Martini nas guitarras e vocais e Felipe Nienow nas guitarras, eles provam porque são chamados de Brutal Death Metal, só que existe uma dose de melodia no caos sonoro que praticam e o mais importante, o que ouvimos no estúdio é fielmente executado ao vivo, podemos conferir com as pedradas Pray for a Lie, Blind Faith e Image of a Dead God e para arrematar o público, Doom.
    Rebaelliun, esse é um show que eu estava bem ansioso para assistir, isso se deve ao fato de todo o turbilhão que envolveu a banda nesses últimos anos, a perca de dois músicos que eram partes fundamentais da sonoridade do Rebaelliun e responsáveis por fazer esse, ser um dos nomes mais fortes e conceitualizados do Death Metal Mundial: Fabiano Penna em 2018 e Lohy Fabiano 2022.
    Porém, o incansável Sandro Moreira (e depois desse fest provou que essa alcunha não é uma força de expressão, afinal de contas ele emendou duas apresentações com dois ícones do death metal, Rebaelliun e Exterminate), soube trazer sangue novo para a banda que sabe da responsabilidade de suas funções e executa muito bem, Bruno Añaña no baixo e vocal é um excelente frontman, enquanto Evandro Passos executa fielmente as guitarras em sons como The Messiah, Affront the Gods, Rebaelliun e já dando uma noção do que será "Under the Sign of Rebellion" tivemos All Hail The Regicide, uma pancada, vai ser difícil ouvir esse álbum, que é o último registro de Lohy, mas sabemos que ele está orgulhoso de saber que o legado do Rebaelliun se perpetua.
    Flesh Grinder, sim meus amigos, santo de casa não faz milagre e sim, faz é podreira! Splater/gore da melhor qualidade, um show da Flesh Grinder é um acontecimento que infelizmente não temos com tanta frequência, então sabíamos o que esperar quando FAMG Necromaniak, RAM The Butcher e DRH Khil subiram no palco e fizeram o que sabem como poucos, espalhar a grosseria em forma de música, a forma como os vocais se intercalam é um dos grandes diferenciais do gore grind splatter aqui demonstrado, assim como a perícia e técnica da bateria que faz levadas insanas como se fosse algo simples de se executar, vide Aroma of an Open Gall-blader e sua levada que pede mosh insanos, além de Ophtalmologic Laceration in an Insane Moribund, Embolia, Granulomatous Inflammation With Elliptical Macrophages e um dos seus maiores clássicos bem recebido por todos ali e eu incluso, Splatter.
    Deixa já eu dizer uma coisa, não existe esse papo de imparcialidade na imprensa, ainda mais se tratando de algo tão subjetivo como a música, ou você gosta ou não, simples assim e porque estou dizendo isso agora? Pois bem, acredito que a Orthostat é uma força tão poderosa dentro do nosso underground que eu vejo a banda alcançando cada vez mais seus objetivos e sabemos que esse cenário musical, ainda mais no Brasil, não se pactua com a criatividade e muito menos justiça, mas é impossível não perceber que estamos diante de uma banda pronta.
    As vésperas de lançar seu segundo álbum, o que eles fizeram no palco foi absurdo, com uma sonoridade que consegue ir do death metal mais bruto para passagens arrastadas que acenam para o doom, pegue o Incantation e coloque ainda mais técnica e terá uma pequena amostra do que eles proporcionam no set, que contou com músicas que já são spoilers do que está por vir, como Entropy e Hydrogen assim como as presentes no álbum "Monolight of Time", Ambaxtoi e Orthostat, um 'show' no sentido mais amplo da palavra.
    Sempre quando vou fazer a cobertura de uma banda consagrada, eu penso o que posso falar deles que já não foi dito, pois bem, dizer que o Krisiun é uma das maiores bandas à levantar a bandeira do death metal mundial e principalmente quando o estilo estava carecendo de um grande nome não é novidade, felizmente, já assisti os irmãos Kolesne algumas vezes e afirmo sem medo de errar, toda a apresentação deles é como se fosse o último show de suas vidas, essa vontade de se entregar e mostrar tudo de si é o que difere eles de muitas outras bandas, e assim como Alex disse no show, - "Falar até papagaio fala, nós somos o Krisiun, nunca nos vendemos e vamos sempre respeitar o Underground doa a quem doer!"
    Esse é o ponto, a técnica do Krisiun poderia fazer eles serem uma banda arrogante, um grupo que se acha superior aos outros, mas não é isso que vimos, desde a forma como eles tem uma simbiose no palco onde apenas com um olhar eles já sabem o que o outro irá fazer, além deles agradecerem demais o público e citar TODAS as bandas do cast, e em alguns momentos era possível ver, tanto Alex, quanto Max e o Moyses, assistindo os shows, e são atitudes assim que fazem cada dia mais eu ser fã da instituição Krisiun!
    No set temos a comprovação de como as músicas do "Mortem Solis" soam muito bem ao vivo como Necronomical e Serpent Messiah aliadas a verdadeiros hinos indispensáveis não da banda, mas do gênero metal extremo de forma geral, Combustion Inferno, Blood of Lions, Apocalyptic Victory e o ótimo cover e homenagem a Lemmy, a encarnação do metal como forma de vida, Ace of Spades, e para minha suprema destruição e alegria, Black Force Domain, onde tudo começou! Longa vida ao Krisiun, uma banda que se orgulha de ser brasileira e que se orgulha de ser Death Metal, que honra conseguir vê-los ao vivo!
    A Necrovoid começa sua primeira edição de um festival auto intitulado com um cast de alto gabarito, com uma organização acima da média e ainda por cima com respeito ao público e bandas de forma geral que respondeu comparecendo e apoiando! Volto a acreditar que temos uma cena, com defeitos, óbvio, mas a perseverança fala mais alto!