Cobertura de eventos #61: "Sepultura" - Arena Opus/SC (30/05/2025)

“Celebrando a vida através da morte”
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O Sepultura não poderia escolher um nome melhor para a sua turnê de despedida. Mesmo que eu tenha ficado extremamente puto com a decisão quando foi anunciada, depois de um tempo consegui entender a beleza que envolve uma despedida no palco: uma morte lenta, mas honrosa. E com essa noção de despedida, daquela que foi uma das bandas que me fez ser um apaixonado por música extrema, minha esposa e eu nos deslocamos para a Arena Opus, em São José, no dia 30 de maio, para, como o nome já diz, não um show, mas sim uma celebração de um legado.
Foi o primeiro evento que fomos cobrir na Arena Opus, e esse local é impressionante em vários aspectos, desde a estrutura até a organização. E o público compareceu em um número relativamente bom, ainda mais considerando que fazia pouco menos de um ano que o Sepultura tinha se apresentado na ilha. Chegamos e já nos deparamos com dois telões laterais que mostravam o logo do Sepultura e sua incrível marca de 40 anos – desde que a banda saiu de BH e se tornou um dos maiores nomes da música extrema mundial.
Os primeiros acordes de Polícia já foram cantados em uníssono – a versão dos Titãs foi homenageada pelo Sepultura e, na minha opinião, ficou melhor. Mas ela já era o cenário para a entrada de Greyson Nekrutman (bateria), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo) e Derrick Green (vocal), imponentes, que logo nos entregaram uma trinca totalmente old school: Beneath the Remains, Inner Self e Desperate Cry. A faixa que dá título ao terceiro álbum de estúdio, assim como Desperate Cry (encontrada no "Arise"), são, na minha opinião, os dois melhores álbuns do Sepultura, daquela época em que eles rivalizavam com o Slayer pelo posto de banda mais agressiva do thrash metal.
Porém, é importante valorizar o passado, mas sem esquecer do presente. Por isso, a próxima trinca trouxe duas faixas mais recentes: Phantom Self e Means to an End ("Quadra") são porradas ainda melhores ao vivo, e Kairos é aquela que pede os circle pits mais extremos. E aqui tenho que elogiar o público headbanger, que estava insano – há tempos que não participava de moshs tão violentos (claro que, se alguém caía, era logo resgatado). E isso passou para a banda, que mostrava, sorrindo, a destruição que seu som causava. Ah, e preciso dizer que tínhamos um fã que se vestiu de banana? (Isso mesmo!) E era ovacionado pela plateia... com gritos de “banana! banana!” – inusitado, para dizer o mínimo.
Mais um ataque massivo do old Sepultura e minha total alegria ao ver Escape to the Void, Dead Embryonic Cells, além da jam que é a cara do Sepultura, Kaiowas. Ao lado delas, outras demonstrações de que é para enervar as 'viúvas Cavalera': o Sepultura seguiu lançando sons extremamente marcantes, como Agony of Defeat (o que o Derrick canta nessa música é uma barbaridade) e o prog thrash de The Treatment.
O show já ultrapassava uma hora, e era claro que teríamos a parte final voltada para aquelas que são indispensáveis no set – ainda mais agora, nessa turnê de despedida. Então chegou a hora de honrar o pai de todos, aquela única banda que une todos os headbangers: Motörhead, com a versão irretocável de Orgasmatron, e aquela que me fez ir para o mosh com a sensação de 'vamos fazer valer cada segundo' – o chamado das tropas, Troops of Doom.
Fazer uso da percussão dentro do metal foi um dos diferenciais da banda mineira, e isso se confirma nos sons que vieram na sequência: Refuse/Resist e Territory. E se o público já estava em total simbiose com a banda no palco, era hora de anunciar: 
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"Obliteration of mankind, under a pale gray sky, we shall arise..."
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Aqui encontrei meu amigo de longa data, Gregor Holmes, vocalista da excelente banda Cujo. E, como ele citou na sua cobertura para a mídia do O Subsolo, esse momento é a catarse – e a gente pensando que é uma pena ser uma despedida, mas consciente disso, vamos curtir cada segundo.
A banda sai do palco ovacionada, mas sabíamos que ainda não era o momento final. Depois de Greyson assumir seu posto – e aqui precisamos dizer: ele faz frente aos grandes nomes que já ocuparam a bateria do Sepultura – ele prova isso com um solo curto e muito técnico, que logo emenda para Ratamahatta. Todos cantando em plenos pulmões, pois sabíamos que, para muitos ali, poderia ser a última vez que iríamos ouvir ao vivo:
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“SEPULTURA DO BRASIL! UM, DOIS, TRÊS, QUATRO...”
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Roots Bloody Roots, mais uma vez cantada em uníssono.
Ao pensar em retrospectiva, o Sepultura foi uma das minhas portas de entrada para o metal. Lembro de assistir à transmissão horrenda que a rede Globo fez do segundo Rock in Rio, mas ali o Sepultura mostrava uma música agressiva, energética, que me fez pensar: 'É disso que eu gosto!'. Agora, mais de três décadas depois, a sensação ainda é a mesma. E o que nos resta é saber que, sim, por quatro décadas, tivemos uma das maiores bandas do heavy metal honrando o nome do Brasil.