Cobertura #28: "Setembro Negro" - Carioca Club/SP (Dia 01 - 02/09/22)

    Salve Headbangers, por mais que seja de conhecimento de todos, o Brasil vive um profundo abismo se tratando de estruturas e ofertas de entretenimento para o público de forma geral, quando falamos sobre a cena do Heavy Metal o cenário é ainda mais catastrófico, com organizadores oportunistas, casas que não apoiam o metal autoral, etc... 
    Porém, indo na contra mão de todo um cenário negativo, o Setembro Negro, evento organizado pela Tumba Productions, chega na sua décima quarta edição mantendo os seus principais diferenciais que são a valorização do metal nacional e um cast que traga para o Brasil grandes nomes da cena mundial e, pela primeira vez, o Underground Extremo estava presente para fazer a cobertura do evento, o que sem dúvida nos encheu de orgulho e satisfação, ao mesmo tempo que foi uma intensa responsabilidade de fazer tal trabalho e o resultado disso você acompanha agora.

 
     
    Com uma pontualidade excepcional, tivemos abrindo o festival a horda The Black Spade, eu estava bem ansioso para conferir eles ao vivo pelo fato de ter gostado bastante do EP "Sangvis Et Honor" lançado em 2018, e também porque nesse projeto temos como 'frontman' o lendário Cavalo Bathory (músico que tem passagem pelo Mausoleum, Amazarak, entre outros).
    E, minhas expectativas foram atendidas da maneira mais brutal possível, o The Black Spade não abre mão das indumentárias e toda atmosfera tão necessária ao metal negro. Os elementos da Quimbanda foram extremamente bem absorvidos na sonoridade da banda como observamos nos sons Soberano Exu Caveira e a missa negra que é Luna Draconis, sem sombra de dúvida, temos aqui uma forte emanação negra que leva adiante o legado do metal negro.
 

    Na sequencia tivemos uma das melhores formações do metal brasileiro no palco, o grande Malefactor! Sou suspeito para falar da minha veneração por essa horda, mas fato é que Lord Vlad (vocal e baixo), Danilo Coimbra (guitarra), Jafet Amoêdo (guitarra) e Daniel Falcão (bateria) conseguem fazer, como poucos, um Death metal épico, provas disso vieram nas poderosas Behold the Evil, Centurian e Elizabathory.
    Sendo a única banda totalmente feminina no festival o Introtyl é um nome relativamente desconhecido no Brasil, mas quem estava no festival vai se questionar o porque demoramos tanto para descobrir essa brutalidade formada em 2009 no México. Atualmente sua formação consiste em Sariux Rivera no baixo, Rose Contreras nas guitarras, Kary Ramos nos vocais e Annie Ramírez na bateria, a apresentação delas causou um interessante contraste, pois aliada a violência sonora que era demonstrada no palco, nos intervalos todas elas se mostravam bastante felizes por estar no Brasil pela primeira vez. Destaque para a carismática vocalista Kary, dona de um vocal gutural de respeito demonstrado em faixas como A Raped Brain, Dissection of the Soul e um dos sons mais recentes Fear, o Introtyl ainda vai alcançar voos mais altos o que é totalmente merecido.
    Anti música no Brasil tem grandes representantes e sem dúvida alguma o Facada é um desses, não somente pelo fato de fazer um som que transcende as barreiras do grind indo para o crust e o Death Metal, como também por suas letras, que se você observar desde o primeiro trabalho "Indigesto" de 2006, continuam bastante atuais infelizmente, é essa raiva que nos rodeia que é extravasada nos palcos, já assisti o Facada algumas vezes e sempre me impressiona como eles conseguem se entregar a cada apresentação em verdadeiros hinos como Tu Vai Cair, O Cobrador, Amanhã Vai Ser Pior, Nadir, entre tantas outras. Um show sem tempo para respirar, somente a musica extrema fazendo as veias pulsarem.

 
    Fudeu... Eu tinha uma dívida moral, pois nunca tinha assistido um show do Headhunter D.C. ao vivo, é claro que apenas 40 minutos não eram o suficiente para esses maníacos por metal morte destilarem todo seu ódio contra a cristandade, então o que tivemos foi um verdadeiro massacre sem piedade, celebrando a morte do nazareno a medida que a missa negra começa Dawn of Heresy, do "In Unholy Mourning" (2011), Stillborn Messiah rememorou um dos melhores álbuns do metal nacional, o poderoso "God's Spreading Cancer" (2007), ao longo do set list tivemos um best off com clássicos de vários álbuns como And the Sky Turns to Black e rememorando o passado tivemos o hino do trabalho "Born Suffer Die" (1991), Am I Crazy? A apresentação se encerra de forma triunfante com Hail the Metal of Death.
    O Metal sul americano é sinônimo de força e tradição. Vindo da Colômbia o Masacre é uma referencia estando na estrada desde 1988 e em nenhum momento eles abriram mão da desgraça sonora. Quem estava ali presente no Setembro Negro logo percebeu que esta é uma banda diferenciada, mesclando momentos de extrema agressividade com uma levada que são puro felling, ou seja, aquela pegada ao vivo que só a experiência consegue trazer! No set tivemos faixas indispensáveis como Cortejo Funebre, Ola de Violencia, Imperio del Terror e o hino do metal morte Death Metal Forever.
 
 

    Um público fiel ficou a frente do palco para assistir o Conan. A primeira apresentação no Brasil dos ingleses que conseguem como poucos fazer uma fusão entre sludge doom, stoner e tantos outros elementos, confesso que ao vivo eles me impressionaram muito mais do que no CD, pois o som ganhou uma carga absurda de peso chegando nas raias do sufocante, como provaram em Total Conquest, Throne of Fire e o hino da banda Satsumo.
    Depois de um show extremamente denso e pesado fomos convidados para uma verdadeira diversão protagonizada pelo cartel mais misterioso e satânico do metal, o Brujeria e aí não tem jeito, quando esses malucos entram no palco você já sabe o que esperar, Death Metal, grindcore e muitas, mas muitas, alusões a drogas! Tanto é que lá pela segunda música eles já estavam pedindo baseados para o público e é claro que tal pedido foi prontamente atendido, mesmo o dito cujo produzido aqui de acordo com a banda não é da melhor qualidade, porém isso não importa, pois a medida que sons como Anti Castro, Cruza la Frontera, Colas de Rata e Matando Gueros começam a tocar, o mosh pit come solto. Já com as cortinas fechadas eles vieram a frente do palco para cantar Marijuana, aqueles momentos que só ocorrem no Setembro Negro.
    Se o Conan tinha uma legião de fãs, o Harakiri For The Sky tem um verdadeiro exército! Arrisco dizer que foi uma das maiores concentrações da noite e quando olhava para o lado tinha sempre alguém cantando as músicas bastante entusiasmado por estar vendo a banda ao vivo. Eu conhecia pouco o Harakiri For The Sky e depois dessa apresentação afirmo que entrei para a legião de fãs citada acima e estou até arrependido por não ter conhecido a banda antes. Divulgando seu mais recente trabalho "Mære" (2021) não faltou sons desse registro como Song to Say Goodbye (belíssima), Sing For The Damage We've Done" além de Fire, Walk With Me uma pequena amostra do que é o Post Black Metal. Não é somente uma das melhores bandas desse estilo, mas sim uma grande demonstração de talento e criatividade.
 

    Ultimamente a palavra mito soa bastante pejorativa sendo indicada para algumas figuras que não merecem tal adjetivo, então vamos nomear quem realmente merece, Ross The Boss é um deles! Mesmo tendo uma carreira bem interessante com 4 trabalhos de estúdio sendo o mais recente, "Born on Fire" (2020) é uma banda de apoio bastante competente com destaque para o vocalista Marc Lopes que nessa apresentação teve a dificílima missão de cantar músicas gravadas por Eric Adams, um dos melhores vocalistas do mundo, e ele não fez feio e não teve como não ficar, no mínimo, emocionado, ao ouvir sons como Kill With Power, Blood of My Enemies, Secret of Steel, Battle Hymn e Hail And Kill encerrando a primeira noite com aquela atmosfera de que O Metal é uma força que une todas as outras que ali estavam presentes!
 
 Continua...