Resenha #338: "Quadra" (2020) - Sepultura

Salve Headbangers! Depois do hype ter passado há um bom tempo, só agora apresentamos a resenha desse álbum e tal demora tem um motivo, existem bandas que eu realmente tenho um apreço e o Sepultura, sem dúvida alguma, é uma delas, e ao contrário do que muitos fãs antigos alegam, eu não vejo a fase Derrick Green como algo negativo ou descaracterizado. Sejamos justos, se o Sepultura tivesse chamado um vocalista que emulasse todas as características do Max estariam sendo eles honestos? Não é um julgamento de valor e sim uma pergunta, onde cada fã deve ter sua resposta!
Pois bem, vamos falar de "Quadra" e do azar que foi a banda ter lançado esse trabalho e o mundo ser atingido pela maldita pandemia, sendo assim, agora a turnê está acontecendo com um certo atraso, por isso nada mais justo que do que trazer esse álbum ao debate.
"Quadra" representa o décimo quinto trabalho de estúdio e aqui não é uma novidade dizer que eles não são apenas focados no thrash metal, basta uma audição de trabalhos como "Against" (1998) e "Kairos" (2011) e irá perceber que a fase dos irmãos Cavalera é saudosa claro, mas ficou para trás. E continuando esse retrospecto, pois se "The Mediator Between Head and Hands Must Be the Heart" (2013) apresentou o mutante Eloy Casagrande, no "Machine Messiah" (2017) temos a influência do produtor Jens Bogren que fez a banda ganhar uma faceta mais progressiva e isso se expande em "Quadra".
"Quadra" se inspira no livro "Quadrivium" que cita as quatro obras liberais: cosmologia, geometria, música e matemática e o álbum segue essa variação onde eles o dividem em quatro blocos de três músicas cada e ele consegue fazer algo que geralmente poucos álbuns conceituais conseguem que é prender nossa atenção para a parte sonora e letras.
De maneira geral, minha impressão foi que a primeira quadra temos thrash metal da forma que gostamos e esperamos do Sepultura, no segundo momento os elementos percussivos, que são uma revisita a "Roots" (1996), a terceira fase se apresenta com o lado progressivo onde a banda explora o fato de ter dois mestres dos seus instrumentos Andreas Kisser e Eloy Cassagrande, e a última fase e a mais surpreendente, onde a banda vem com passagens melódicas, o que já era uma sonoridade que vinha se firmando em "Machine Messiah" de 2017.
A primeira trinca começa com Isolation, um dos momentos mais extremos do álbum e se engana quem pensa que esse som se refere a pandemia já que ela se refere ao sistema prisional do Estados Unidos. Na mesma pegada temos Means to an End e justiça seja feita, só um ótimo vocalista como Derrick Green para dar a interpretação que esse som precisa, note como vai alterando suas vocalizações, algo que vamos ainda ouvir muito nesse registro.
Redundante também falar mais de Eloy, esse trabalho é um marco na sua carreira no que tange criatividade e fico feliz de dizer o mesmo de Paulo Xisto que com certeza demonstra sua melhor passagem em toda a carreira do Sepultura. Last Time fecha essa primeira trinca com um thrash moderno e provavelmente o meu som favorito do álbum, pelo peso que ela apresenta e ao vivo deve ser destruidora.
O lado moderno aflora na próxima trinca com Capital Enslavement que faz uma ponte com "Machine Messiah" (2017) com seus elementos sinfônicos e percussivos, e aí temos Ali e Raging Void que mostram uma banda que sabe seu papel na criação e consolidação de um estilo como o groove e o próprio thrash metal, por isso que você percebe passagens que remetem ao Messugah na primeira e Mastodon na segunda.
Caso não tenha percebido que o Sepultura não se limita a apenas um estilo, é melhor parar a audição e a leitura do texto por aqui, mas se continuar prepare-se para grandes sonoridades a serem desbravadas, pois temos Guardians of Earth, uma faixa que se situa já como obrigatória no setlist, um som que desde a primeira vez que ouvi fiquei impressionado por essa ser uma faixa imprevisível de várias maneiras. Uma tradição que vinha esquecida era a de ter faixas instrumentais e agora temos The Pentagram, preciso dizer duas coisas sobre ela: se o Dream Teather um dia tomar anabolizantes vai soar assim e Eloy definitivamente não é desse planeta! A medida que os toques orientais se fundem ao death metal na faixa Auten que encerra essa pegada como começou, nos deixando extasiados.
Nos momentos finais, "Quadra" decide tirar o pé do acelerador, mas isso nem de longe é ruim, primeiro pela faixa título, um interlúdio de violão, para quem está acostumado com a carreira solo de Andreas não vai estranhar essa passagem. Agony of Defeat utiliza-se dos alcances vocais de Derrick para fazer um som que se tornou um dos meus favoritos, não do álbum, mas da carreira da banda, um som que exala experiência e vontade de arriscar e no meu ponto de vista, acertar! Note que é o mesmo registro que tem a pancada Isolation, ou seja, diversidade musical e talento. Fechando essa saga, Fear; Pain; Chaos; Suffering, um som acessível que tem a participação da vocalista Emmily Barreto do Far From Alaska, eu não conhecia a banda, mas o contraste entre as vozes ficou bem marcante e com certeza da mesma forma que eu não conhecia o Far From Alaska fãs dessa banda podem vir se deparar com o Sepultura e conhecer uma das melhores bandas da cena nacional! Resumidamente, não temos um "Arise" parte 2 e sim um novo trabalho de uma banda que tem um legado e atende pelo nome Sepultura.
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TRACKLIST:
1) Isolation
2) Means to an End
3) Last Time
4) Capital Enslavement
5) Ali
6) Raging Void
7) Guardians of Earth
8) The Pentagram (instrumental)
9) Autem
10) Quadra (instrumental)
11) Agony of Defeat
12) Fear, Pain, Chaos, Suffering
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FORMAÇÃO:
Paulo Xisto - baixo;
Andreas Kisser - guitarras e vocais (backing);
Derrick Green - vocais;
Eloy Casagrande - bateria.