Entrevista #48: Carniça

O termo 'Lenda' vem sendo usado de maneira muito descompassada nos últimos tempos, com muitas bandas levando esse rótulo sem nem merecer porém, justiça seja feita, existem inúmeros nomes que merecem essa titulação no nosso underground e um deles é a banda Carniça. Com uma bagagem que honra o legado do metal gaúcho além de sempre se manter fiel ao seu 'Rotten Metal' trouxemos a vocês no texto a seguir, sem mais delongas, uma entrevista exclusiva:



1) A banda mudou de formação recentemente. Podem nos dizer o quanto essas trocas de integrantes afetaram os planos do Carniça? E, a propósito, como estão sendo, para uma banda do underground, as adaptações nesses tempos de pandemia sem fim?

R: As trocas de integrantes sempre afetam o andamento de uma banda. Atualmente passamos por uma maré baixa de baixistas, hahahahahaha. Mas já temos algum jogo de corpo, e, atualmente, isso não nos afeta muito. O disco que estaremos lançando terá um baixista convidado tocando. Agora, quando esta pandemia eterna terminar, precisaremos de um membro efetivo. Mas até lá vamos participando de eventos virtuais com convidados no baixo. Nestas épocas tivemos que nos adequar à nova realidade. Eventos virtuais, lançamentos virtuais.... É o ideal? NÃO! Curtimos aquele cheiro de cerveja, de desodorante vencido, aquela vibe dos shows, e isso, vai demorar um pouco para acontecer. Só espero que quando os shows voltem, a galera compareça em PESO!!!!


2) Por incrível que pareça, o primeiro show do Carniça em Santa Catarina, foi no Hell do Campo em 2018, quando assisti a banda pela primeira vez e me impressionou demais a postura e a energia nos palcos! Podemos dizer que o Carniça é uma banda que se prova ao vivo?

R: Sim! Acho que a Carniça consegue mostrar toda sua força ao vivo! Hoje em dia é muito fácil ser uma "banda foda" em estúdio, com toda a tecnologia a disposição. Mas é ao vivo que o bicho pega!!! E neste quesito, acho que nos saímos bem na maioria das vezes!


3) Em uma coluna chamada “Metal e História” no portal O Subsolo em que sou colaborador, escrevi acerca da música Revolução Farroupilha, faixa essa que se encontra no álbum auto intitulado da banda. Como foi a pesquisa para fazer tal composição e a recepção da mesma? E esse viés histórico, pode estar presente em futuros trabalhos da banda?

R: Revolução Farroupilha não foi feita para ser um tributo à "Revolução Farroupilha" propriamente dita. Foi usada como alegoria, tentamos pinçar os fatos positivos de uma revolta, luta, etc. As vezes aparecem "historiadores de zap zap" dizendo: ah, vocês não podem falar isso, ah, a Revolução Farroupilha foi elitista e racista, etc. Mas a música enaltece o sentimento de mudança, o rompimento com o poder que emana das elites. É por aí o espírito da música. No próximo lançamento, "A New Medium Ages" não há nada parecido em termos de composição histórica.



4) O Carniça sempre me soou como uma banda de ‘thrash/death’, sabendo como poucas, passar por esses estilos abrangendo as melhores características de cada um! Os trabalhos mais antigos tinham uma veia mais ‘death’, enquanto desde o auto intitulado, notei elementos de heavy’ metal tradicional nas guitarras por exemplo. Como vocês definem a sonoridade do Carniça e como é o processo de composição da banda?

R: Acho que a Carniça conseguiu ao longo dos anos ter uma identidade/sonoridade própria. E não quero me gabar por isso, mas é algo difícil de se obter. Nunca nos prendemos à um rótulo dentro do Metal. Mas sempre nos prendemos ao Metal. Não demos muita importância aos sub gêneros, não ligamos para eles. Escutamos todas vertentes do Metal. Para nós, TUDO É HEAVY METAL!!!!!!


5) Voltando um pouco no tempo, na memória tenho sons marcantes do trabalho “Rotten Flesh"(1999). Acredita que ele foi um bom cartão de visitas para demonstrar a sonoridade do Carniça? Hoje esse material está fora de catálogo ou ainda podemos encontrá-lo?

R: "Rotten Flesh" foi muito importante para a banda, pois foi nosso 'debut', num tempo em que as coisas eram MUITO diferentes, outros tempos. Até hoje, a música Rotten Flesh é tipo um hino da banda, e ela nos traz grandes recordações da nossa história. O material foi logo esgotado quando lançado em 1999, porém nos 25 anos da banda, relançamos-o com a gravação original e mais duas faixas bônus. Está ainda em catálogo.


6) A banda sofreu uma pausa. Quais foram os motivos que resultaram nesse tempo na geladeira? E o mais importante, o que fez vocês retornarem com um dos melhores trabalhos da sua discografia, o “Temple's Fall... Time To Reborn” (2011). Ah, e a propósito, porque só sete faixas? Esse trabalho é curtinho, mas matador!

R: Demos um tempo, mas não encerramos a banda por um curto período. Essas coisas acontecem pois os membros têm suas vidas particulares. Somos todos parentes e continuamos a nos falar, encontrar, etc... Mas surgiu a hora que o despertador tocou e a hibernação chegou ao fim. Acordamos cheios de energia para fazer um 'trampo foda', e acho que conseguirmos. "TEMPLE'S" foi muito bem recebido, inclusive recebendo prêmios da mídia especializada. E sim, só tem 7 músicas como todos discos da banda. Todos nossos trabalhos possuem somente 7 sons e no próximo lançamento "A New Medium Ages", seguirá esta tradição.




7) Mauriano, como está atualmente sua saúde? Pergunto porque lembro que em uma fase da banda você também era responsável pelos graves no baixo, mas se afastou da função devido a lesões, é isso?

R:  Sim! Sou Diabético tipo 1 há quase 50 anos e tenho algumas complicações devido à doença. Dentre delas, possuo neuropatia, que afeta os movimentos dos braços, mãos, etc. Sendo assim estava foda de prosseguir tocando. Mas acho que a mudança foi benéfica, pois me dediquei mais aos vocais. No momento meu estado de saúde é estável, mas não tenho condições de assumir o baixo mais....


8)Falando em capas agora, a minha favorita é do “Nations of Few” (2012), que é simplesmente bem atual. Já a do trabalho “Carniça” (2017) é mais simples e trás uma representação da banda. Como vocês vêem a importância de ter um trabalho gráfico caprichado para uma banda do underground? E o que já nos pode adiantar do próximo trabalho, o “New Mediun Ages”, já tem a parte gráfica e músicas definidas? A propósito, Dogs of War é sensacional!

R: A parte gráfica de uma banda de HEAVY METAL sempre foi muito importante! Quem nunca, nos primórdios comprou um disco só porque a capa era foda? Pois bem, também sempre nos preocupamos de ter em nossas capas, a atmosfera do disco. Como você citou, a capa de "Carniça", é mais simples, pois ela foi uma homenagem àquelas capas de bandas oitentistas de HEAVY METAL. "Nations" já foi mais elaborada, pois o tema do álbum assim o é. Agora, " A New Medium Ages" é o retrato do país. Estamos passando por uma Idade Média. Falsos valores religiosos, teocracia, negacionismo da ciência, etc. O álbum será focado nisso e a capa exprime bem todo esse momento. A arte foi desenvolvida pelo renomado e talentoso Alcides Burn, conhecido artista gráfico do Metal nacional e internacional. O álbum está pronto, com SETE músicas (sendo uma delas um cover, só para variar, hehehehe). Neste quesito também mantemos a tradição: todos nossos álbuns têm 7 músicas e uma delas, um cover. Esperaremos a pandemia passar para lançá-lo. Teremos formato digital e físico.
No dia 21 agora, estaremos lançando uma música do álbum, em forma de 'lyric video'. Se liguem nas nossas redes !!!!!


9) Aqui no site e também na webradio, sempre falamos da cena gaúcha que é um celeiro de bandas monstruosas, porém vendo de dentro, como é o cenário do estado? Existe união entre as bandas ou ainda existem dificuldades para o fortalecimento do estilo como um todo?

R: Enfrentávamos muitas dificuldades antes da pandemia, pois muitas casas de shows estavam fechando. Agora, com o agravamento da crise, o pouco que sobrou se foi. Será um processo lento e doloroso o retorno. Todos os aficionados do estilo deveriam se unir, mas sabes que isso é difícil... Mas vamos em frente, investindo na banda e prestigiando SEMPRE as parcerias.


10) Obrigado pela entrevista! Gostariam de deixar um recado para os leitores do site Underground Extremo?

R: Agradecemos imensamente a parceria, intercâmbio de ideias e sobretudo o apoio incondicional que vocês dão ao Metal Underground ! Agradecemos também à toda a galera de Santa Catarina que nos trata MUITO BEM ! Temos MUITOS amigos verdadeiros aí. Nos vemos em breve no Fest On Line de vocês!!!!!