Cobertura #27: "Mosh Metal Meeting" - Pomerode/SC (28/05/22)

    Antes de começar a esmiuçar os detalhes do festival, quero dizer o quanto esse evento foi importante para o Underground Extremo em alguns aspectos (se quiser pular essa parte tranquilo).
 
    Primeiro, é o fato de ter o nosso trabalho como mídia underground, são sete anos envolvidos com a divulgação do cenário extremo nacional e foi nesse festival que recebemos uma enorme acolhida por parte da organização e nosso agradecimento especial ao Clóvis Roman e Kenia Cordeiro da Acesso Music por fazer o meio de campo que nos permitiu as conversas com as bandas e essas entrevistas você vai conferir no nosso canal do Youtube logo menos.
    Outro ponto foi o fato de a nossa equipe de dois (Carina e Harley) estar usando as camisas do portal Underground Extremo e para nossa surpresa, com a passagem do som do Krisiun tínhamos o monstro Max Kolesne usando a mesma, além do público também reconhecendo o site, para nós esse é o maior estímulo, o que prova que estamos no caminho certo e cada vez mais motivados para apoiar a cena do Underground nacional.
    Nesse mês de maio estivemos presentes fazendo a cobertura das turnês do Metallica e do Cannibal Corpse, porém nossa expectativa a cada dia só aumentava para a "Bréa Extreme Tour 2022" organizada pela Xaninho Discos em parceria com a Mosh Productions e a Wox Club que, como já comentamos na passagem do Steve Grimmet, é uma das melhores casas de shows de Santa Catarina, e tal expectativa se confirma, pois o que presenciamos foi uma celebração ao Death Metal.
 
 

    Palco montado com velas, candelabros e correntes para a estreia do Crypta em terras catarinenses e acredito que a recepção não poderia ser melhor, pois o quarteto atualmente formado por Luana Dametto na bateria, Tainá Bergamaschi na guitarra, Fernanda Lira na voz e baixo e Jéssica Falchi na guitarra, recebeu um público ávido por sua apresentação, cantando todas as músicas e empolgando a cada anúncio como em Kali, Starvation e a destruidora Possessed.
    Falar da técnica e carisma de Luana e Fernanda é desnecessário, enquanto a frontwoman com sua performance consegue se tornar uma gigante no palco, a baterista mostra porque é vista como uma das melhores musicistas da atualidade e as guitarristas Tainá e Jéssica são responsáveis pelas linhas ora melódicas, ora agressivas da banda e impressiona a química e dinamismos entre elas, caso algum desavisado não soubesse que a Jéssica entrou um pouco antes da turnê começar, pensaria que ela está com as meninas desde a formação.
 

    Em entrevista que fizemos com a Fernanda Lir,a comentamos o fato de "Echoes of the Soul" ser um álbum dinâmico e ao mesmo tempo muito agressivo, só que você precisa assistir a banda ao vivo, pois a agressividade do CD é levada a enésima potência e o público respondeu abrindo os primeiros circles pit da noite! Encerrando a apresentação From the Ashes, uma música que diz muito sobre toda a caminhada para o nascimento da Crypta e após esse show, afirmo que todo o sucesso que elas vem atingindo ainda é pouco, pois teremos muito a ouvir e comemorar sobre as conquistas da Crypta.
 
 
    Impactados pelo show que tínhamos acabado de assistir e sem muito tempo para se recompor, pois estavam já preparando o palco para uma verdadeira instituição do metal morte nacional, o Nervochaos. Mesmo com toda distância geográfica eu já tive a honra de assistir ao menos 06 apresentações deles, curiosamente todas em fases distintas da banda e agora estaria vendo uma nova formação, com músicos já conhecidos como ‘Quinho’ Parisi na guitarra, Pedro Lemes no baixo, Woesley Johann na guitarra além, é claro, do lendário Edu Lane na bateria que agora apresentam como frontman o vocalista americano Brian Stone nos vocais e para falar dele, me permita até trocar o parágrafo!
 

    Com mais de 25 anos de jornada e sendo uma banda estradeira, o Nervochaos tem um número enorme de clássicos, aqueles sons que não podem ficar de fora do set list e ainda de quebra estão divulgando o trabalho "All Colors of Darkness" e aqui quero citar o Bian, pois ele conseguiu trazer a sua personalidade e interpretação para a banda, seja com sons que ele gravou, como no mais recente trabalho, como também em clássicos absolutos que ele já tinha colocado sua voz, assim como no trabalho "Dug Up… Diabolical Reincarnations" que são regravações de sons de várias fases da banda, mas no CD não chega nem perto da brutalidade que é ao vivo, o senhor Stone deve ter cinco pulmões! Não é possível a forma que ele vai do gutural para o gritado e agita o tempo todo como vimos em Pazuyzu is Here, For Passion Not Fashion e na mais recente Dragged in Hell que na sua parte mais tensa parece uma missa negra. Como fã fiquei feliz de ver o Nervochaos com uma formação tão sólida.
 

    Lembra que comentei que a estrutura da casa é fantástica? Então, na parte externa, entre intervalos de shows, tínhamos uma atração a mais, o Didley Duo que como o nome indica, são dois músicos que fazem um som bem cativante e no mínimo inusitado, pois não é sempre que você vê uma pá com distorção! Infelizmente não consegui pegar muito da apresentação deles, já que é nos intervalos das bandas que o duo do Underground Extremo se dedica para as entrevistas, mas sem dúvida, em uma futura edição do festival, o Didley Duo merece estar no palco principal.
    O que falar do Krisiun? Em entrevista que realizei com o Max Kolesne, ele afirmou que são uma banda de três headbangers que curtem metal, vivem o metal, escutam o estilo o dia todo e por isso mesmo que ao ouvir a banda ela é tão autêntica e e eu não poderia pensar em definição melhor! Sabendo que pelo formato da tour o set seria reduzido, então tivemos dez sons, mas acima disso a comprovação de que Alex Camargo (baixo e vocal), Max Kolesne (bateria) e Moyses Kolesne (guitarras) ao vivo são imbatíveis! Esse set list em especial trouxe várias surpresas como abrir com a marcante Kings of Killing. Tivemos também Vengeance’s Revelation e Ravager dividindo espaço com sons mais novos como Scourge of the Enthroned, Combustion Inferno e a minha favorita Blood of Lions.
 
 

    Em outro momento, me fez ser ainda mais fã da banda (o que parecia impossível!), o discurso de Alex que visivelmente emocionado agradeceu o público e disse que todos são bem vindos a um show do Krisiun, independente de sua cor, orientação sexual e gênero, se posicionando contra o governo fascista e retardado que está no poder! E sempre é muito bom ouvir uma voz de bom senso e resistência, teve quem não gostou, o que na verdade pouco importa.
    Fechando a apresentação, veio a homenagem à um dos maiores ícones do rock, uma versão animal de Ace of Spades (Motörhead) que abriu mais um circle pit infernal e Hatred Inherit do grande Conquerors of Armageddon, onde a curva da dominação mundial estava no seu ápice e daí não parou mais!
 

    Cabeça de bode e cruz invertida invadem os palcos! Hora dos austríacos do Belphegor iniciarem sua celebração ao metal morte. E verdade seja dita, existe um contra ponto deveras interessante entre Helmuth e Serpenth, enquanto o vocalista é uma encarnação do ódio com seu corpsepaint escorrendo sangue e uma presença nefasta a medida que liberava uma corrente de blasfêmias, o baixista Serpenth faz jus ao seu nome, pois ele interage com a plateia e a enfeitiça com uma postura de palco desafiadora, muitas vezes subindo nas caixas de som e mostrando a língua ao melhor estilo Gene Simmons só que ainda mais infernal!
 

    Sabendo que seu vindouro trabalho "The Devils" está para ser lançado, então eles aproveitaram para testar ao vivo novos sons como Totentanz – Dance Macabre, Sanctus Diaboli Confidimus e a belíssima Virtus Asinaria – Prayer que realmente faz jus ao nome, pois a mesma é tensa como uma oração invertida.
    Observando esses novos trabalhos do Belphegor é possível ver uma maturidade na proposta da banda, mas é claro que alguns sons não poderiam ficar de fora, por isso a aclamação foi geral em sons como Stigma Diabolicum e Lucifer Incestus e a invocação em forma de música Baphomet! Eu queria Necrodaemon Terrorsathan, mas fica para uma próxima passagem deles no Brasil. Fato é que ao lado do Behemoth eles são, na atualidade, uma das bandsa que mais acrescenta na cena do Death/Black metal europeu.
 

    Ao término dessa apresentação hipnótica, o ambiente é tomado por uma atmosfera teatral e sinfônica. Eu estava bem ansioso para ver essa nova fase da Paradise in Flames, uma banda que acompanho há tempo e já tinha destacado "Act One" como um dos melhores trabalhos de 2021 e não me decepcionei. Tenho certeza que quem não conhecia a banda ficou extremamente impressionado!
    Essa nova formação acrescentou muito na sonoridade e como falamos em entrevista (em breve no Youtube) essa era a sonoridade que eles queriam alcançar! Agora com três vocalistas, A. Damien está mais livre para as guitarras, pois Guilherme de Alvarenga assumiu os teclados e vocais, funções essas que ele já executava no D.A.M e O. Mortis com seus vocais líricos que fazem o contraste perfeito para a base instrumental composta por R. Aender no baixo e S.J Bernardo na bateria.
 
 
    Então, grandiosidade é o melhor adjetivo para sons como Delirium, Old Ritual to an Ancient Curse e as minhas favoritas Bringer of Disease e The Way of Pentagram. Não a toa a banda fez uma turnê vitoriosa na Europa e agora de volta ao Brasil você não  deve deixar de conferir ao vivo para ter a noção do que é um espetáculo de metal extremo.
    Com perdão do trocadilho, mas uma apresentação da Zombie Cookbook levanta até defunto! Eu acompanho a banda desde a sua formação e fiquei feliz quando eles voltaram e já tive a oportunidade de assistir eles ao vivo (ou aos mortos!) algumas vezes e sempre me empolgo com sua levada death com elementos do thrash, grind e quase punk.
 
 
    Devido ao horário, o set foi mais reduzido, mas deu tempo de abrir mais alguns circles pit em sons como I Sell the Dead e Buried Beneath the Leachate, queria Motel Hell, mas fica para uma próxima!
    Finalizando a noite tivemos o Imblut. O nome pode ser novo na cena, mas a banda é formada por veteranos. Na bateria Marcão responsável por espancar as peles em bandas como Goatpenis e Rhestus, Tiago A. Sestrem é o guitarrista (Rhestus) e Emerson (Rythual) é responsável pelos vocais e baixo.
 
 
    É aquela velha história, quem já foi do underground não abandona a cena, por isso mesmo que o primeiro full "Mummifying Moments" apresenta essa junção entre o death metal e o thrash, sendo esse mais marcado pelos vocais do Emerson que são rasgados e ao mesmo tempo guturais, transmitindo muita raiva em sons como Spiritual Ecstasy, Mummifying Moments e Chaos Serpent.
 
    Não queria fechar essa resenha com o clichê de - "essa noite ficará na memória" ou coisa parecida, mas aqui não tem outra forma de dizer, pois o que vimos foi uma simbiose entre banda e público ( em torno de 600 pessoas, algo lindo de se ver, casa lotada!). Aquela troca de energia que só quem um dia colou em um show de metal extremo entende!Público, bandas, mídias e produtoras, todos esses elementos juntos fazem o underground se manter vivo. Por mais festivais como esse e por mais apoio ao metal nacional sempre.