Cobertura de Eventos #25: " Turnê Metallica com Greta Van Feet e Ego Kill Talent" (05/05/2022) - Porto Alegre/RS

Salve Headbangers! Essa provavelmente é uma resenha muito importante para o Underground Extremo, pois estivemos em Porto Alegre para assistir nada mais nada menos que a maior banda de Heavy Metal do Mundo, título esse que não diria que ela disputa e sim compartilha com o Iron Maiden, e cito os ingleses já nessa resenha, pois a experiência de vê-los ao vivo em 2019 foi tão impactante como esta que irá ler aqui.
 

Um adendo interessante é que eu, assim como muitos bangers, também tenho um pé atrás com alguns trabalhos do Metallica, no meu caso não vejo com muito entusiasmo trabalhos como "Load" (1996), "Reload" (1997), "St Anger" (2003) e  principalmente o divisor de águas "Metallica" (1991), o famigerado 'álbum preto', mas ao vivo nada disso importa, pois vale destacar que eles tiveram dois anos para preparar essa turnê então é até surpreendente de maneira muito positiva, eles estarem variando o set list em cada show, aparecendo assim algumas supresas e, até o momento, afirmo que quem foi presenteado com o melhor set list foi POA. E aqui uma crítica que vai ser senso comum em qualquer resenha que você encontrar desse show, a Fiergs não é o melhor lugar para um show da grandiosidade dessa turnê, o fato de ser um terreno plano fez com que o público acabasse bastante prejudicado, não é a toa que esses são chamados de eventos de arena.

Sem nenhum atraso, tivemos subindo ao palco as 18:30 h, o Ego Kill Talent que não teme dividir grandes palcos, o que na verdade acredito que eles já estão até acostumados, pois possuem no seu currículo apresentações em Rock in Rio, Lollapalooza (Brasil e Chile) e Brixton Academy, só para citar alguns.
 

Fato é que a banda formada por Theo Van Der Loo (baixo e guitarra), Jean Dolabella (bateria e guitarra), Raphael Miranda (bateria, baixo e guitarra), Niper Boaventura (guitarra e baixo) e Jonathan Dörr (vocalista) chama atenção, seja pela dinâmica no palco, vendo muitas vezes os músicos intercalando seus instrumentos, assim como, é muito bom ver também que nessa nova banda eles levaram o seu legado musical a um novo patamar e não tem nenhum exagero nisso, se por horas o som tem uma vibe meio Pearl Jam com Alter Bridge, em outras, o peso da mão do Dolabella relembra seus tempos de Sepultura fazendo umas levadas agressivas com um toque de Alice Chains e essa sensação você pode ouvir nos dois álbuns lançados por eles.

Nesse show, em pouco mais de meia hora, tivemos um set com sons como Now!, Sublimated e The Call, o vocalista Jonathan saudava o público e com um orgulho nítido em dizer que estavam em casa e ali no palco representavam todos os gaúchos e o público respondeu, pois ao olhar para o lado dava para perceber fãs da banda cantando todas as faixas como Heroes, Kings and Gods e Last Ride que encerrou essa apresentação até que curta, mas que foi de vital importância tanto para a banda, como para quem ainda não conhecia o talento e a energia da Ego Kill Talent. Um grande orgulho de ver uma banda brasileira nesse patamar!
 

Brincadeiras à parte, lá nos anos 80 era difícil imaginar uma banda como o Greta Van Feet abrindo para o Metallica. O público mais fiel ao thrash iria, no mínimo, fazer aquela tradicional chuva de garrafas (para ser otimista), porém os tempos são outros, o metal passou e ainda passa por modificações, novas e velhas bandas se aliam e quem ganha é o público! E aqui, permita-me dizer, não estava nos meus planos gostar do show do Greta e eles não são uma banda que eu tenho no meu playlist, mas corrigindo, não tinha, porque foi uma apresentação para calar a minha e muitas outras bocas detratoras dos guris.

Sim, guris mesmo, porque a pouca idade deles não condiz com as raízes setentistas que eles apresentam no seu som. Josh Kiszka tem aquela voz e postura andrógena que, claro, lembra Robert Plant, mas que diabos... É melhor lembrar Led Zeppelin do que Coal Chamber, por exemplo.
 

Jake Kiszka é um guitarrista espetacular e a cozinha é completa por Sam Kiszka que intercalava o baixo com o teclado e o baterista Daniel Wagner que segurava as improvisações com levadas bem diretas, sim eles improvisaram algumas vezes, assim como era feito, adivinha ... nos anos 70!

Com um singelo e tímido até, '- Boa noite Porto Alegre!', Josh Kiszka mostrou-se um gigante! Sons como Built by Nations, Black Smoke Rising e, agora minha favorita e presença confirmada na minha playlist, My Way, Soon, fizeram o público dançar, cantar junto e emendar o coro '- Olê, olê, olê! Gretaaa, Gretaaa!' E essa receptividade foi correspondida com direito à flores jogadas ao público.

Fica aqui uma lição interessante, nossos heróis vão se aposentar logo logo e quem vai levar o legado adiante? Quem estava nesse show, sabe a resposta!
 

Ah... mas eles não são mais os mesmos, a banda morreu , blá, blá, blá... Não tem jeito, assim que o Greta acabou, começou na mente de todos nós uma contagem regressiva para WorldWired Tour mostrar sua força em Porto Alegre, cidade essa que já foi presenteada com outras duas apresentações do Metallica em momentos únicos para a banda, em 1999 e em 2010 e o magnetismo que James Hetfield (vocal e guitarra), Lars Ulrich (bateria), Kirk Hammett (guitarra) e Robert Trujillo (baixo) exercem no público, é algo que só quem é fã sente e consegue explicar! Então vamos voltar ao passado com o hino Whiplash, e meu Satã! Como eu queria vivenciar um mosh enorme nesse som, infelizmente não rolou, mas verdade seja dita, "Kill 'Em All" (1983) é um dos melhores debuts do metal mundial, sem mais!
 
 
Continuamos nos anos 80, pois Ride The Lightning vem mostrando a evolução que o Metallica foi apresentando a cada álbum, esse som é isso, técnico e agressivo, ah mas o Lars não toca mais na mesma velocidade! E quem se importa? Só o fato deles terem feito um álbum como esse, é algo que temos que agradecer aos céus ou ao inferno, o que acho mais válido.

Meu nostálgico coração não estava muito pronto para essa trinca de Harvester of Sorrow, do "... And Justice for All" (1988), álbum esse que tenho um amor incondicional mesmo sabendo o quanto as linhas de baixo foram prejudicadas em estúdio, ele tem os sons que ao vivo ganham ainda mais peso e agressividade, fato esse visto um pouco mais a frente com a épica One e a irretocável Blackned.
 
 

A primeira saudação à 'Metallica family' veio com James dizendo: " - Porto Alegre, faz muito tempo! É muito bom ver vocês!" E sim, meus amigos, é muito bom ver eles mandando mais uma dupla de sons da velha escola, Seek & Destroy e No Remorse, o que me deixou incrédulo, pois nem nos meus set lists mais otimistas, esperava essa pérola! (Eu já disse nessa resenha né, "Kill 'Em All" é perfeito!).

Como esperado, One veio trazendo aquele clima de estarmos nos dirigindo para o campo de batalha e a produção do show sabe muito bem disso, intercalando fogos de artifício com pirotecnia, animações no telão e efeitos de luzes e lasers, um show para os ouvidos e para os olhos que ficará marcado na nossa mente para sempre!
 
 

E chegou a hora de calar minha boca mais uma vez, pois o trintão Black álbum aparece com Sad But True. É triste, mas é verdade, tem gente que se apega ao passado e não deixa a banda evoluir, pois bem, eu fiz as pazes com o álbum nesse show e mérito disso foi ver alguns sons desse disco ao vivo pela primeira vez.

Não tendo um trabalho inédito desde 2016, é claro que o set iria trazer os clássicos, mas da para testar algo mais novo, por isso mesmo Moth Into Flame veio para o set list e olha, não fez feio não, além das chamas correndo, literalmente atrás da bateria, esse som tem aquele ar da velha escola, ótima escolha e se você ainda não deu uma chance para o "Hardwired... to Self-Destruct" está perdendo viu!
 
The Unforgiven é aquela música que se não for tocada irá despertar a ira de 99% dos fãs! Eu me encaixo no 1% que já tinha tirado ela do set e trocado por Creeping Death, mas ver a forma que James canta a mesma de olhos fechados e vai intercalando o violão para a guitarra é lindo! Logo na sequência, um grande sino se projeta no telão e temos For Whom the Bell Tolls, aqui não tem jeito de evitar e o público berra o refrão a medida que o sino vai se destruindo pela força do som que emana da audiência.
 

Outra grande surpresa veio direto do famigerado "Reload", em Fuel nem preciso dizer que o palco pegou fogo em todos os sentidos possíveis, mas tanto a banda como o público ainda tinham muito fôlego para mais, por isso fomos presenteados com duas peças chave da banda, vindas direto de 1986, Welcome Home (Sanitarium) e Master of Puppets com direito a plateia cantando não só a letra como o solo de guitarra, algo arrepiante!

A banda sai para o famigerado "Bis" e ele veio com os dois pé na cara! Blackened deu para partir dali, eu já estava de alma lavada, porém ainda faltava dois momentos de extrema emoção para os 40 mil fãs ali presentes. Com Nothing Else Matters, a balada mais conhecida, não só do Metallica como da música de forma geral e a sensação que a melodia dela causa é algo que beira o hipnótico! Fechando a apresentação, a luz saiu e a noite entrou, assim Enter Sandman coroa a apresentação bombástica que vivenciamos ali. Um fato legal a se destacar é que o público era composto por várias faixas etárias e para muitos ali, esse som deve ter sido a porta de entrada para a sonoridade do Metallica.
 
Para findar, uma explosão de fogos e uma emocionada despedida com agradecimentos de todos da banda com Trujillo mandando em português 'Eu, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!', o gigante é de um carisma ímpar.

Ao total foram duas horas de show, onde a banda mostrou uma entrega e uma sinergia contagiante! Alguns 'críticos' falaram em show no piloto automático ou em uma grande piada... Porém, o que a gente viu, foi uma banda gigante que passou por dificuldades, mas encontrou na música uma forma de se expressar e combater seus demônios. O show se encerrou, partimos para o ônibus porque no dia seguinte, teríamos nosso dia a dia no trabalho para cumprir, mas sem dúvida alguma, como o próprio Metallica cantou em Reload ' - But the memory remains' (as memórias permanecem!).