Especial: A cena DSBM no Brasil

Salve headbangers!
Estamos em setembro, o mês amarelo de combate ao suicídio, porém muito além de uma data que acaba sendo só rememorada um mês ao ano, a depressão e o suicídio são mazelas abertas na sociedade e uma forma de sanar essa dor é, sem dúvida, a música. Poucas divisões do metal extremo conseguem ser tão profundas como o DSBM, por isso mesmo, convidamos o pessoal das páginas (Facebook) DSBM Memes e Depressive Suicidal Black Metal Brazil, para fazer um texto que fosse uma demonstração da força do estilo no Brasil e essa parceria nos enche de orgulho, sem mais demora, confira a seguir.



Depressive Suicidal Black Metal - encurtado como Depressive Black Metal e abreviado por DSBM - é um subgênero musical do Black Metal. As primeiras bandas, com características do que veio a ser o DSBM, surgiram na segunda metade dos anos 90, mas somente após o ano 2000 que algumas bandas começaram a rotular o som que faziam como Depressive Black Metal.

O conteúdo principal nas letras de bandas de DSBM são depressão, comportamento autodestrutivo, suicídio, escuridão, solidão, morte, automutilação e misantropia em conjunto com um humor melancólico e ao mesmo tempo desesperador. Para muitos músicos ocorre uma certa purificação ao confrontar as questões centrais sobre a vida e a morte, e uma convicção de um livre-arbítrio.

O compositor ao falar de si mesmo acaba, também, fazendo o ouvinte se identificar com aquilo e a pensar no suicídio como uma afirmação da vida, onde se há a possibilidade de optar por ou contra ela. Há uma espécie de admiração e respeito por aqueles que vencem a "vontade de viver" e que escolhem ser donos do seu próprio destino. Kim Carlsson, vocalista das bandas Life Is Pain, Lifelover e Hypothermia, chama o Depressive Black Metal de uma 'expressão criativa derivada dos sentimentos gerados pela depressão'. O conteúdo está no campo da tensão onde evade numa expressão catártica pelo músico, e a música chega como um ataque perturbador ao ouvinte e o faz repensar sobre sua própria vida e sobre a morte.

Tanto para os compositores quanto para os ouvintes, a sonoridade aliada às letras gera uma catarse, uma evasão dos sentimentos e emoções confinadas dentro da pessoa. Através da música há uma identificação do ouvinte com quem escreveu aquela letra. Atualmente, a depressão e o suicídio tem sido temas nas mídias devido ao alto índice no mundo todo. Entre os jovens os picos estão alarmantes, e muitos desses jovens se isolam e acabam tendo como companhia apenas a música.

 

O Depressive Black Metal chega até algumas dessas pessoas para gerar um encontro de emoções que estão amordaçando tanto quem emite a música quanto quem a recebe. Isso gera uma sensação de acolhimento. O fato de saber que alguém, em algum lugar do planeta, está deixando evadir a dor e o sofrimento através da música e que você se encontra em situação similar, acaba trazendo uma espécie de alívio, como se a sua dor também se evadisse através daquela sonoridade, daquela letra, daqueles gritos e lamúrias.

Embora leve o 'Black Metal' no título, sendo assim referido como um subgênero deste, o DSBM tem como base a dosagem com o Doom Metal, ainda, com a música ambiente e atmosférica, resultando em uma vertente com identidade própria.

O DSBM chegou no Brasil ainda na década de 2000. As características que o moldam logo alcançaram àqueles que se enxergavam de tal modo, independente do país onde residiam. A dor mental, a insatisfação pela vida e o desejo inevitável pelo suicídio expressado nas canções, foram acolhidos por todos que sentiam o mesmo para com suas vidas e, assim, o DSBM começou a agregar adeptos. Do mesmo modo que chegava aos ouvintes e gerava uma identificação com o conteúdo, também despertava uma vontade, em muitas pessoas, de fazer o mesmo, de usar a música para dar vazão às suas mais soterradas agonias internas.

No ano de 2005, em Limeira, uma cidade do estado de São Paulo, o multi-instrumentista Paolo Bruno veio a formar a banda Thy Light, dando origem, assim, a cena nacional do subgênero mais depressivo do Metal. Anterior a Thy Light, as bandas paulistanas Sky Valley e Ravenblood, e a mineira Sorrows (inicialmente formada sob o nome Misanthropia of Souls) já abordavam temas como depressão e suicídio em suas músicas, no entanto, seguiam com as características do Black Metal, com músicas velozes e vocais furiosos.

Thy Light caminhou em direção à melancolia, com passagens sonoras unindo guitarras menos pesadas e mais expressivas, atmosferas criadas por teclados e baterias cadenciadas mantendo uma base precisa ao longo das canções, bem como vocais desesperados e carregados de angustia de Paolo, que sempre cita a banda Summoning - creditada como uma das precursoras do Atmospheric Black Metal - como uma de suas maiores influências. A parte lírica ficou à cargo de Alex Aguiar, um amigo norte-americano de Paolo e que tinha maior facilidade em escrever. A estreia da banda veio com a demo "Suici.De.pression", lançada no ano de 2007, e que se tornou um material indispensável para quem aprecia DSBM.


A partir de 2007 várias bandas, em diferentes estados do país, começaram a compor músicas introspectivas, com letras abordando a solidão, a desesperança e o ardente desejo pela morte. Entre elas se destacam a gaúcha Winter Forest, a paulistana Vesano, a brasiliense Depressive Life e a sergipana Cantus Soturnus. Essas bandas ainda carregavam muitas das características do Black Metal, porém já dosadas com linhas atmosféricas e ambientes.

A 'banda de um homem só' Neblina Suicida, fundada por Fernando Old Count, na cidade carioca de Nova Friburgo, lança sua demo "O Fim". Trazendo músicas carregadas de uma sonoridade bastante crua, remontando bandas de Raw Black Metal, - mas dando maior ênfase na lentidão com elementos do Funeral Doom - essa demo é marcada por vocais graves guturais mórbidos, riffs vagarosos acompanhando as canções como o cortejo de um funeral e uma bateria morosamente marcando o caminho sonoro com poucas variações.

 

Logo foram surgindo outras bandas onde o Black e o Doom Metal se mesclavam com atmosferas desoladoras. Forgotten Abyss, iniciada como um projeto solo de Lithium Spooky, veio em seguida se somar com os membros Ghoul e Don The Blasphemer, lançando então algumas demos onde a suavidade de sons acústicos se mesclavam ao peso de riffs distorcidos e vocais expressivos. Hateful Agony, banda paulistana formada por Lord Doryan Wolf, Wvlferrer e Aske D, estreia trazendo músicas bem produzidas, mas sem deixar a crueza de lado.

A partir de 2012 a cena de DSBM no país torna-se mais expressiva, com inúmeras bandas sendo criadas e já estreando com suas demos. Em fevereiro a banda Lamúria Abissal, formada pela dupla Thy Despair e Pale - respectivamente, residentes em Bangu, Rio de Janeiro e Paulo Afonso, Bahia -, lança a demo "Cânticos de Um Além Abismo", contando com 4 faixas. A demo remete às lamúrias vindas do mais obscuro abismo interior. As letras percorrem toda a fadiga e exaustão de sobreviver diante de uma miserável existência e como as decepções com os seres humanos, os rompimentos de laços alicerçados em confianças, facilmente, quebrados por uma das partes traz uma grande exaustão emocional. A sonoridade dessa estreia é bastante bruta, pouco lapidada, porém, com riffs marcantes, vocais intensos com muito sofrimento e letras que remetem sair do fundo de um peito dilacerado pela vida.

 

Outra banda que estreia e merece destaque é Funesto, fundada na cidade de Aracruz, Espírito Santo, no ano de 2013 por Fúnebre. Com a demo "Meu Último Dia", lançada de forma independente, Fúnebre já expressava seu talento dosando vocais carregados de fúria e, ao mesmo tempo, com a lentidão característica do Funeral Doom, criando uma atmosfera envolvente e melancólica. Com leves influências de bandas como Nocturnal Depression e Happy Days, o instrumental é marcante e traz uma originalidade à Funesto, que regurgita em cada faixa toda a sua insatisfação para com a vida.

Mais bandas vão surgindo pelo país. A banda mineira Absent Heat, formada por O.L. na cidade de Belo Horizonte, também surge estreando com um split intitulado "Lifeless", juntamente com a banda Eternal Misery, e trazendo à tona um som cativante onde passagens limpas de guitarra se intercalam com riffs pesados. Em São Paulo surge a banda Gulag, formada por Häxan, lançando seu EP autointitulado e trazendo novos sons ao DSBM nacional. Com passagens limpas beirando ao etéreo, vocais se alternando entre guturais e suaves, linhas de bateria média à rápida e instrumentos acústicos, a banda foi uma das precursoras do Post Black Metal no país. Suas temáticas líricas giravam em torno de ideais socialistas e o abatimento que pesa sobre o indivíduo numa sociedade capitalista.

Outra banda paulistana que merece destaque é Freak Funebre, da cidade de Taboão da Serra, que estreia lançando a demo "As Sombras da Noite Eu Morro por Eu Mesmo...", contando com Old à frente do instrumental, vocais e composição, trazendo aspereza sonora com furor vocal e letras expressando a insanidade de existir. Rope, formada por Chackal em João Pessoa, na Paraíba, lançando canções evocando uma nostalgia com acordes serenos de guitarra que se alternam com o peso que explode regurgitando toda decepção, frustração e sentimento de insignificância perante os relacionamentos interpessoais aos quais os seres humanos são, inevitavelmente, lançados. A paranaense Tristesse, formada por Martinelli e Foedamtonmal, também expõe a dura e pesada decepção, desapontamento e mágoa a qual despenca sobre qualquer pessoa após rompimentos amorosos.


Com o carioca Seektor e o mineiro Skymning, a banda Abisma surge em 2014 estreando com o EP "Lamentos", caminhando sob uma sonoridade atmosférica e com influências do Doom, com letras expressando a desesperança, a dor, depressão e suicídio. : Nihus:, banda paulistana, inicia-se com Sjükt na parte instrumental e Gris nos vocais, no entanto, em poucos meses Gris deixa a banda e Emmanoel (também membro da banda Gurum) assume os vocais. Fluindo entre músicas rápidas, influenciadas pelo Black Metal, e outras onde a lentidão impera, o álbum "Monólogo do Sofrimento" entrou para os indispensáveis da cena nacional. 

Em Betim, Minas Gerais, Abismika, formada por Depression 4, surge lançando a demo "Ouça Minha Angústia", trafegando por uma sonoridade mais Raw. No Sul do país, na capital do Paraná, Curitiba, a banda Hikan traz em seu primeiro álbum músicas executadas com primazia, remontando o Black Metal Norueguês dosado com a melancolia e desespero do Depressive Black Metal. Michael Wilseque, único membro da banda, torna "The Cycle of Pain" um dos álbuns fundamentais da cena nacional.

Outras bandas notáveis que surgiram nesta época são a paulistana Help, formada inicialmente por João Tolentino e Mortem; as baianas Gray Souvenirs e As Long as I Can (ALAIC), contando com Putrefactus como fundador delas; a paraibana Nostalgia, formada por Torres; a também paraibana Dolorem, formada por Paulo Roberto, Nichollas Jaques, Jackson Luciano e Marcos Sena; a gaúcha Depth, formada unicamente por Lucas Alves; e a potiguar Worros, formada por Loser, estreando com o single Worthless Suffering (For You). Em Pernambuco, Montosse, formada por Érdos e Astratta, lança, ao lado da banda Cold, o split "Wintercearig", trazendo toda a efemeridade da vida em suas marcantes canções. Juntamente com o músico equatoriano Dopamine, Astratta lança o EP "A Deep Melancholy" para a banda Le Délire des Négations, formada por ambos. Ainda, no mesmo ano, Astratta também lança a demo "Wind", para seu projeto solo chamado Entardecer. A banda Ecos Póstumos, formada no estado do Paraná, na cidade de Arapongas, por Renato Nascimento, estreia lançando os EP's "Diário de um Suicida" e "Diário de um Suicida (Lado B)", o single Hipocristia e o EP "Janela Para a Loucura", todos carregando a característica de abordar os transtornos mentais e as vivências de pacientes internados em hospitais psiquiátricos.



Seguindo sob influências das bandas chamadas de Depressive Rock/Narcotic Metal como Lifelover, Apati e Psychonaut 4, surgem em território brasileiro bandas como Narcose, formada por Nitlott, Krishna, Neutra, Lord Astaroth, (P) e Nihilist, na cidade de Campina Grande, Paraíba, explorando toda a melancolia urbana em suas letras; a paulistana Vumini, formada por Dr. Jekyl, experimentando o Depressive Rock com Trip-Hop; Invernium, formada por Förhätt, na cidade de Valinhos, São Paulo, unindo o Narcotic Rock ao Atmospheric Black Metal; e a também paulistana Monophobia, formada por .jpg, com canções repletas de melancolia e solidão oriundas da vida cinzenta e apática das grandes cidades.

A cena seguiu crescendo e atraindo fãs que encontravam conforto nas canções. No Pará surge a banda Deadwishes, formada na cidade de Santarém, por Juan Haughm, lançando o EP "Of Shattered Hopes...", contendo 4 faixas inteiramente instrumentais. A cearense Langour, formada por Dåfast Død e Inane, estreia com uma demo autointitulada e, ainda no mesmo ano, o split "Total Falência", ao lado da banda Vazio Eterno, remontando as bandas tradicionais de Black Metal, mas, com uma dose significativa de melancolia.

A paulistana Allonair, formada na cidade de Assis por Lophrano, estreia com seu álbum carregado de uma atmosfera fúnebre com influências do Funeral Doom e o uso massivo de teclados e piano que são precisos para encaixar letras que trazem à tona toda a desolação humana, a decrepitude da existência e a perpétua angústia que rasga o indivíduo diariamente. Alloces, formada por Leonardo Lobo na cidade goiana de Palmeiras de Goiás, estreia com um EP contendo 3 faixas completamente instrumentais onde mesclam riffs repetitivos à uma cadenciada melancolia. Também em Goiás, surge a banda Alivium, formada por Das Irrlicht e Daemon Saiph, evidenciando a força dos vocais femininos que vociferam o furor mesclando-se à desolação em meio a uma sonoridade crua, densa e que exalta a aspereza encontrada na rotina humana. No Distrito Federal, Antissocial, banda formada por Solfieri Süskind Angst, estreia lançando um EP contendo uma sonoridade que percorre elementos do Depressive Black Metal e Depressive Rock e que remontam as belas melodias de Katatonia, com uma envolvente sonoridade que prende o ouvinte às pulsantes e enfáticas levadas de bateria e riffs hipnotizantes de guitarra.


Drowned, formada pelo brasiliense Kamikaze Joker e pelo gaúcho Behevras, estreia com 2 álbuns e 1 EP, lançados em um curto intervalo de tempo entre um e outro, trazendo dezenas de músicas explorando o Black Metal com Doom e atmosferas bastante melancólicas. Outra banda com vocais femininos surge em São Paulo com Alissa S., Clonazepam, que estreia dosando melancolia com fúria, onde as músicas seguem uma atmosfera triste e densa que se alterna com linhas calmas de guitarra e outras mais pesadas onde eclode a fúria inebriada e a mais lacerante angústia. Os vocais são imersos nas paredes sonoras que se formam, soando enevoados, mas, ainda em evidência diante da fúria que sai do mais profundo abismo emocional.

O país conta com uma cena bastante consolidada, por assim dizer. Muitas bandas se mantêm ativas lançando material novo com certa frequência. Frequência esta que é peculiar no DSBM, visto que a expressão nas músicas é autêntica, assim, as bandas não lançam material para somar ou de forma planejada. O escape, saudável, fornecido pela música é o principal motivo que leva pessoas a formar bandas e projetos de Depressive Black Metal. E ouvintes se aproximam deste subgênero também para encontrar uma conexão e, assim, sentir que não estão sozinhos na íngreme luta contra a própria mente.

 

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Revisado e editado por Carina Langa.