Entrevista #33: Dignatários do Inferno

Para alguns, o ‘Heavy’ Metal tem como objetivo a diversão, o ‘mosh’ e também ser a trilha sonora para encher a cara! Nós, do Underground Extremo, concordamos com isso e somos fiéis dessa prática, porém, não podemos esquecer que por trás de toda arte, existe uma proposta e na união desses dois objetivos, temos a Dignatários do Inferno, um ‘power’ trio formado em Juiz de Fora/MG e, como o próprio nome não esconde, a banda tem muito a dizer e questionar. Então, para o desespero das paróquias, confira nossa entrevista:




1) Hail Dignatários! Grande honra nossa estar realizando essa entrevista! Gostaria de começar com vocês apresentando a banda, para nossos leitores que ainda não são familiarizados com a Dignatários do Inferno.



Bernardo Falcão (BF): Salve, Underground Extremo! Salve leitores! Salve arautos! Nós que agradecemos pelo espaço gentilmente cedido! E parabéns pelo trabalho fomentando o underground! 
A banda foi formada em 2015. Defendemos o Estado laico brasileiro e questionamos o uso das religiões, com uma mistura de Thrash e Stoner, com letras em português. Somos um trio, atualmente com Bernardo Falcão na guitarra e vocais, Lucas Saab no baixo e Daniel Dan Dan na bateria. 


2) A banda hoje apresenta-se como um ‘power’ trio. Sempre foi essa formação? E quais são as vantagens e desvantagens desse formato? Em três fica mais difícil briga, não?



BF: Sim, sempre foi um trio. Só vejo vantagens e nenhuma desvantagem. Nunca tive problemas trabalhando nesse formato. Zero brigas.


3) Sabemos que rotular o som nunca é uma tarefa fácil! No som da DDI, percebi uma influência de ‘Thrash’ e ‘Stoner’. Que raízes vocês poderiam apontar pois são presentes no som? 


BF: Além das que você citou, há alguma influência de Death Metal também. Como compositor de todas as músicas, posso dizer que minhas principais influências são Hendrix, Sabbath, Ten Years After, Cream, Mahavishnu Orchestra, Coven, Brujeria, Death, Hirax, Gangrena, RDP, Dorsal AbstractSlayer, Acid King, Electric Wizard, Fu Manchu, Miles Davis… são muitas. 

4) O uso do português me pareceu muito fiel para vocês conseguirem expor a proposta da banda, muitos detratores do uso dessa língua no metal, dizem que isso fecha as portas para o mercado internacional. Como vocês veem esse embate? E terá algum momento que a DDI irá compor em inglês? 



BF: Sinceramente, eu não me importo nem um pouco com esse lance do inglês. Na verdade eu quero mesmo é que as pessoas no Brasil escutem e entendam as mensagens que queremos passar, e para isso tem que ser em português. Até mesmo porque são em sua maioria, mazelas brasileiras. As mensagens são para os brasileiros. Se agradar lá fora, ótimo, é consequência. Fazendo com que as pessoas parem para pensar um pouquinho e despertar algo nelas, já está bom. Tem muita gente dormindo. 


5) A discografia de vocês conta com um EP, brilhantemente batizado como “Demo”, que depois foi sucedido pelo álbum “Impastor”. Quais as principais diferenças entre esses dois registros? 


BF: O caos. A ideia inicial era lançar logo de cara um full-lenght com 10 músicas. Mas por questões pessoais, o então baterista Ronwe Vekum gravou somente 4 pois precisou voltar para a Islândia. O "Demo" foi gravado ao vivo no estúdio. Durante esse processo, desde o início das gravações até a finalização, acabei compondo mais 4 músicas, que viriam a completar as 10 do "Impastor". 
Já para gravar o "Impastor", entrou o baterista Daniel Dan Dan. Aí o processo de gravação fluiu ¨normalmente¨. Acabei gravando 7 dos 10 baixos também. O Thiago Salomão, baixista do "Demo", gravou as outras 3. Gravamos no estúdio Mother's House, sob o comando do Mestre Léo Schröeder (Abstract), que literalmente destruiu o baixo na estreia da banda no Festival de Bandas Novas 2015.




6) “Sem Deus”, o segundo álbum, é meu trabalho favorito da DDI, ele foi lançado somente no formato virtual. Tem alguma ideia para o lançamento do trabalho de forma física? E vocês como uma banda ‘Underground’, acreditam que ainda é viável lançar trabalho de forma física? 


BF: Não temos a intenção de lançar o álbum em CD. Não é viável, pois foi uma produção independente (assim como "Demo" e "Impastor") e a escassa grana que havia, foi para a gravação e produção. E soma-se a isso o fato de que a maioria das pessoas hoje em dia ouve músicas online ou baixadas nos 'gadget's'. Tenso. 



7) Ainda sobre o “Sem Deus”, ele é um trabalho mais pesado na minha opinião, com passagens que remetem ao ‘Death’ Metal. Será esse o caminho que a Dignatários irá seguir em futuros trabalhos? 


BF: Obrigado!! E acertou na mosca! Acho que as influências do 'Death' Metal aparecem mais nesse trabalho mesmo. E afirmo que nos próximos também aparecerão mais, já que tenho mais 19 músicas em estado 'demo', só esperando a hora certa para serem gravadas para valer e virem à luz. Inclusive, em primeiríssima mão, informo que vamos lançar um EP com 4 músicas em 2020. Já estamos trabalhando nele. Aguardem! 


8) Sem dúvida, não existe nenhuma forma da banda se omitir, pois as letras da Dignatários são ácidas, isso é um mérito fantástico! Como por exemplo em Democracia Teocrata e Franquias da Fé. Esse posicionamento já trouxe algum problema para vocês como músicos e seria isso a mensagem no ‘single’ Censura


BF: Não tivemos problemas ainda, felizmente. Já o 'single' Censura foi lançado propositalmente no Dia da Proclamação da República, com o intuito de dar uma amostra do momento político do Brasil e o rumo sombrio que tomou-se. E vai piorar. 


9) Vivemos hoje um período obscuro na nossa história, pois é dito o ‘slogan’ - “Deus acima de todos”, tem-se o avanço da bancada evangélica e muitas outra abominações, exercidas por governos e pastores, que estão perigosamente próximos do poder. Na visão da Dignatários do Inferno, o que pode ser feito para evitar um estrago ainda pior? 


BF: Essa "política" de "Brasil: ore ou deixe-o" está destruindo a democracia e os nossos direitos mais básicos. O Brasil praticamente já é uma ditadura teocrata. Seria preciso aplicar as leis e botar na cadeia esse bando de milicianos, fascistas, nazistas, homofóbicos, racistas, laranjas e afins. Mas está cada vez mais difícil combatê-los, uma vez que essa corja está se blindando mais e mais a cada minuto. Quem sabe uma revolta popular, como acontece nos nossos países vizinhos e mundo afora? Mas acho muito pouco provável. 



10) Sabendo da filosofia da banda, vocês já tocaram ou tocariam em algum evento com banda de ‘White’ metal? E como está atualmente a cena de Minas Gerais? O estado que revelou grandes nomes para o Metal nacional, incluindo o maior de todos, o lendário Sarcófago


BF: Nunca tocamos e nunca tocaremos, obrigado. Rs. Quanto à cena em MG infelizmente não tenho como responder, pois não moro lá há quase dois anos. 



11) Muito obrigado pela entrevista! Para finalizar, poderiam informar as suas redes sociais. E se for do agrado, pedimos que deixem algum recado para nossos leitores. 


BF: Nós que agradecemos! Foi um prazer poder compartilhar um pouquinho da nossa história e da nossa visão. Abaixo, nossas redes sociais e plataformas para ouvirem a nossa palavra: 

Twitter: @digantarios 
"O problema não é chamar esse presidente de filho da puta, e sim, chamar esse filho da puta de presidente".

Revisado por Carina Langa.